Todo ano olímpico a expectativa é ver nossas estrelas da NHL no gelo, disputando a medalha dourada em suas respectivas seleções. Para 2022, deixaram a gente sonhar: era o momento de ver Sidney Crosby ao lado de Connor McDavid. Auston Matthews ao lado de Johnny Gaudreau. E uma verdadeira salada mista das linhas que estamos acostumados a acompanhar.
Deixaram a gente sonhar, mas infelizmente a COVID-19 acabou com a alegria do fã de esporte e, por causa do aumento de casos e dos jogos adiados, a NHL desistiu de permitir a ida dos seus atletas para Beijing 2022. Assim, mais uma vez, acompanharemos os jogos sem as grandes estrelas da Liga.
Entretanto, quando falamos de hockey olímpico, falamos de muito mais do que só a NHL. Falamos de quando o esporte era apenas amador, de nomes que subiram ao pódio em meio a boicotes e crises políticas. Falamos de mulheres brilhando no gelo, e uma das maiores rivalidades da história, disputada medalha a medalha. Hoje, vamos conhecer um pouco do outro lado brilhante da história do esporte.
Estreia nos jogos
O hockey no gelo (masculino) fez a sua estreia nos jogos em uma Olimpíada de verão! Sua estréia foi nos jogos de Antuérpia em 1920, três anos após a criação da NHL em 1917. Entretanto, foi apenas em 1924, nos jogos de Chamonix, na França, que o esporte passou seu programa para os jogos de inverno. Outra curiosidade é que o Canadá foi o medalhista de ouro em ambas as edições.
Já a modalidade feminina demorou décadas até enfim ser considerada olímpica em 1998, em Nagano, no Japão. E, desde então, as seleções femininas de Estados Unidos e Canadá travam uma verdadeira batalha pela medalha de ouro a cada 4 anos.
O hockey olímpico e a URSS: Red Machine
Durante o período da Guerra Fria, os esportes foram um dos artifícios que o governo soviético encontrou para fazer propaganda do seu regime. Dessa forma, eles investiram em diversas modalidades em que a URSS tinham domínio para levar ao mundo ocidental as forças ideológicas que eles estavam construindo. Dentre eles, o hockey.
O hockey da forma como conhecemos hoje surgiu no Canadá. Na Rússia, a modalidade que era mais praticada recebe o nome de bandy, onde os jogadores usam uma bola de borracha no lugar do disco e, geralmente, em lagos congelados e arenas outdoor.
O Ice Hockey, ou Hockey canadense como foi chamado, chegou à Rússia quando o país já fazia parte da União Soviética. Oficiais do governo tiveram contato com o esporte em 1945. Em uma visita ao Reino Unido, durante um tour do time de futebol FC Dynamo Moscow, tiveram a ideia de criar uma seleção competitiva de hockey.
Foi responsabilidade de Anatoli Tarasov transformar um grupo de jovens jogadores de Bandy em uma seleção de Ice Hockey consistente e competitiva. Para isso, Tarasov, que era apaixonado por balé, desenvolveu uma técnica da qual os jogadores “dançavam” no gelo se posicionando onde o disco estaria, formando um jogo diagonal em oposição ao linear apresentado pelo Canadá.
Com uma disciplina digna das escolas de dança russas e treinando 11 meses no ano, mesmo quando não havia gelo, Tarasov liderou uma seleção que dominou o cenário do hockey internacional. A estreia da URSS em jogos olímpicos aconteceu nos Jogos de Cortina d’Ampezzo 1956 e mudou de vez o curso da história olímpica do hockey. Em um cenário que antes era dominado pelo Canadá, agora a URSS foi em busca desse domínio esportivo-político e conquistou entre 1963 a 1972, três medalhas de ouro olímpicas e 9 campeonatos mundiais. Ao total, foram 9 medalhas de ouro em jogos olímpicos para a URSS.
O Miracle on Ice
Talvez o jogo de hockey mais famoso em jogos olímpicos seja o Miracle on Ice. Na semifinal das olimpíadas de Lake Placid, em 1980, a seleção americana entrou no gelo com seus atletas universitários para enfrentar a União Soviética no seu auge. E, apesar de todas as probabilidades, os Estados Unidos não apenas venceu esse jogo de virada, como também conquistou a medalha dourada naquele ano.
Na década de 80, os jogadores da NHL não podiam competir em jogos olímpicos pelo critério do amadorismo que existia nas regras olímpicas. Dessa forma, as principais estrelas norte-americanas, em sua maioria canadenses, ficavam de fora da competição.
Dizer que a rivalidade EUA x Rússia no hockey não tem origens políticas também não seria correto. Os Estados Unidos levaram uma medalha de ouro olímpica vencendo a URSS, em plena década de 1980, o que sem sombra de dúvidas teve um respaldo político. Entretanto, para aqueles atletas, as questões políticas foram as que menos importaram no momento do jogo.
Os Estados Unidos chegavam àquela olimpíada com uma seleção de hockey recém-formada. Jovens jogadores, em sua maioria, universitários, que até um ano antes estavam acostumados a competirem entre si e não a formarem um time único para defender o seu país.
Essa seleção americana, apesar de nenhum de seus jogadores atuarem na NHL profissionalmente, foi a abertura que a Confederação Americana de Hockey teve para expandir a NHL nos Estados Unidos e a formar uma nova forma de jogar hockey.
Sochi 2014: foi bom vê-los, NHL
Se em 2014 alguém contasse a Sidney Crosby que aquela seria a sua última olimpíada em anos, ele teria comemorado ainda mais a medalha dourada. Mas as olimpíadas de Sochi entraram para a história não apenas porque foi a última com a presença de jogadores da NHL, como também a que deu origem a todo o escândalo de doping da Rússia que viria a estourar depois. No hockey, tivemos o Canadá vencendo a medalha dourada tanto no masculino quanto no feminino.
A final feminina entrou para a história quando, pela primeira vez em jogos olímpicos, precisou de um overtime para Canadá e Estados Unidos definirem um vencedor. Perdendo por 2 a 0, foi apenas no terceiro período que a seleção canadense, com gols de Brianne Jenner e Marie-Philip Poulin respectivamente, iriam empatar o confronto. E foi Poulin quem marcou o gol da vitória, no overtime, dando a medalha dourada para o Canadá.
No masculino, por outro lado, não faltavam nomes estrelados dentre as seleções como Sidney Crosby, Gabriel Landeskog, Jonathan Toews, Roman Josi, Tuukka Rask, Vladimir Tarasenko, Zdeno Chara, Joe Pavelski, Jaromir Jagr, Mats Zuccarello, entre outros. A final, disputada entre Canadá e Suécia, teve um resultado positivo para a seleção canadense. Com Sidney Crosby usando o C, Carey Price no gol e diversos outros grandes nomes no gelo, o masculino também conquistou a medalha dourada. Dessa forma, na última participação de jogadores da NHL em jogos olímpicos, o Canadá mostrou porque ainda é considerado o país do hockey.
Olimpíadas de PyeongChang 2018
Em 2018, o fã do hockey pode curtir uma campanha interessante tanto no masculino quanto no feminino. Sem os jogadores da NHL, Estados Unidos e Canadá ficaram de fora da final do masculinho e uma zebra aconteceu: a seleção da Alemanha disputou a final pela primeira vez, contra os atletas olímpicos da Rússia. A seleção germânica ficou com a medalha de prata, enquanto que os atletas olímpicos da Rússia conquistaram o ouro pela primeira vez desde a dissolução da União Soviética.
Mas, apesar do hockey masculino ter sido um campeonato interessante de assistir, a grande estrela da última olimpíada foi a modalidade feminina. O primeiro destaque foi a histórica seleção da Coreia unificada. Por serem o país sede, as jogadoras do norte e do sul disputaram, pela primeira vez, um campeonato juntas. E não foi surpresa para ninguém que as seleções dos Estados Unidos e do Canadá disputaram a final. As canadenses eram as favoritas depois de terem levado a medalha de ouro para casa nas últimas quatro olimpíadas, mas as americanas não desistiram e conquistaram a medalha dourada em 2018 pela primeira vez desde a estreia da modalidade nos jogos, em 1998.
Sem os jogadores da NHL nas olimpíadas, sem dúvidas poderemos ver mais zebras e reviravoltas em 2022.
Para mais curiosidades olímpicas, confira a nossa série 10 for 10 , em que relembramos diversos fatos importantes do hockey na última década, incluindo as olimpíadas de 2010 e 2014.
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