Como funciona o primeiro contrato profissional na NHL
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Com o fim de semana do Draft chegando ao fim, surgem dúvidas acerca do futuro dessa nova safra de talentos. O que são entry-level contracts? Jack Hughes vai direito do NTDP (National Team Development Program) para a NHL? Kaapo Kakko virá para a América do Norte para jogar com o New York Rangers na próxima temporada? Vasili Podkolzin conseguirá sair do seu contrato na Rússia ou os Canucks irão precisar esperar dois anos para vê-lo em ação? Para responder estas perguntas, precisamos entender como funcionam os primeiros passos desses jovens na sua carreira profissional.
Quem pode assinar?
Todo jogador precisa assinar um entry-level contract (ELC) se ele tem menos de 25 anos de idade. O termo do contrato é variável, podendo ser de um a três anos. Para isso, a idade do atleta quando o termo foi assinado é levada em consideração. Conforme verificamos na tabela abaixo:
Idade em que o contrato foi assinado | Duração |
18 – 21 anos | 3 anos |
22 – 23 anos | 2 anos |
24 anos | 1 ano |
A idade válida é aquela até o dia 15 de setembro do ano em que o contrato for assinado. Tal qual a elegibilidade para o Draft, o jogador pode ter vindo do hóquei universitário, do sistema colegial, do major junior da CHL (Canadian Hockey League) ou das ligas europeias, por exemplo.
Quais são os termos deste contrato?
Todos os ELCs são two-way contracts, ou seja, têm salários diversos para as diferentes Ligas. O valor máximo pago pela NHL é $925,000 e, no caso da American Hockey League (AHL), $70,000. O contrato, além disso, envolve diversos bônus que podem ser pagos ao atleta. Essa gratificação pode ser pela assinatura do contrato ou pelo alto desempenho durante a temporada.
O signing bonus, que conta para o valor do atleta no cap, tem como valor máximo $92,500 (correspondendo, portanto, a 10% do valor total do contrato). Além disso, os contratos geralmente trazem bônus por performance. No caso destes, são divididos entre as categorias A e B.
Quais os requisitos para os bônus de performance?
A categoria A engloba algumas metas. De início, 20 gols, 35 assistências, 60 pontos. É preciso também estar no top 6 da sua equipe em tempo no gelo entre os atacantes (em pelo menos 42 jogos) e estar no top 6 da sua equipe em +/- (também com ao menos 42 jogos). Por fim, deve ter ao menos 0.73 pontos por jogo (em pelo menos 42 jogos). Cada bônus vale $212,500, podendo chegar a $850,000. Sendo assim, só podem ser recompensadas quatro metas.
Já a categoria B traz metas mais difíceis com um teto maior, de até 2 milhões de dólares. Elas são: estar no top 10 da Liga em gols, assistências, pontos ou pontos por jogo (pelo menos 42 jogos). Além disso, ganhar o Hart, Selke, Richard, Norris, Vezina ou Conn Smythe. Por fim, estar no primeiro ou no segundo time All-Star da Liga no NHL Awards.
E o teto salarial, como fica?
Há a previsão de um espaço de até 7.5% do cap para acomodar os bônus na temporada seguinte à conquista das metas estabelecidas. Caso a somatória dos bônus dos atletas em entry-level contracts passe desse limite, começa a contar contra o teto salarial. Temos um exemplo recente em Toronto, com Matthews, Marner e Nylander em seus ELCs. A somatória das bonificações destes jogadores passou do valor permitido e contou para o teto.
O que acontece quando um contrato “slide” (desliza)?
No início de toda temporada se ouve falar da regra dos dez jogos para os novatos. Isto ocorre porque há um mecanismo no CBA (Collective Bargaining Agreement) que estabelece que, antes de atingir dez partidas pela NHL, o jovem atleta pode retornar para sua equipe de origem sem que seja contabilizado o ano de seu contrato. Ficando, assim, como se nunca tivesse atuado como profissional.
Nesta hipótese, o jogador recebe apenas seu signing bonus durante a off season e retorna ao major junior ou às ligas menores sem receber seu salário. As equipes usam muito desta tática. Com ela, os clubes têm o jogador a um custo controlado durante mais tempo. Ao mesmo tempo permite que o atleta seja testado no profissional para que possa provar que deve ficar ali.
Além disso, retornar o atleta para as ligas menores pode ser fundamental para o seu desenvolvimento físico e técnico. Para que um contrato “deslize”, o jogador deve ter 18 ou 19 anos quando o contrato foi assinado, desde que não vá fazer 20 anos naquele ano.
Exemplos desse “slide” do contrato
No caso de Filip Zadina, no ano passado, antes da temporada 2018-2019. O prospect de Detroit jogava pelo Grand Rapids Griffins, afiliado dos Wings na AHL. Teve seu primeiro ano do contrato “jogado” para esta próxima temporada 2019-2020. Ou seja, o clube de Michigan terá mais tempo até o tcheco chegar à restricted free agency.
Um exemplo oposto envolveu outro europeu, o alemão Leon Draisaitl. Na temporada 2014-2015, o Edmonton Oilers mandou o atleta de volta à Western Hockey League (WHL) após 37 partidas no profissional. Desta forma, o contrato não deslizou e Draisaitl se tornou, então, RFA depois de dois anos completos com os Oilers.
Jogadores já “comprometidos” com universidade do sistema NCAA
No caso daqueles atletas que optam pela via do hóquei universitário, eles não podem assinar contratos, pois sua elegibilidade perante a NCAA (National Collegiate Athletic Association) depende de seu status enquanto amador. Desta forma, os direitos de um clube em relação a um atleta draftado se estendem até 30 dias depois do fim de sua vida acadêmica.
Os atletas universitários podem assinar contratos depois da trade deadline, desde que sua temporada universitária já tenha acabado. Neste caso, assim como na hipótese dos dez jogos, o clube “queima” um ano do contrato do jogador quando ele é assinado no final da temporada regular.
Ainda assim, é uma prática muito comum. Recentemente pudemos ver no caso de Quinn Hughes do Vancouver Canucks (Universidade de Michigan) e Cale Makar do Colorado Avalanche (UMass Amherst). O último nem mesmo atuou na temporada regular, mas foi importante para a equipe de Denver nas partidas dos playoffs em que participou.
E quem não é draftado?
Em muitos casos, os jogadores não draftados são convidados para participar dos training camps. A partir dali, eventualmente o clube pode oferecer um contrato se gostar do desempenho do atleta. Atletas como Pascal Dupuis e Chris Kunitz, que ganharam a Stanley Cup mais de uma vez e, no caso do último, o ouro olímpico, não foram draftados.
Com Seattle chegando, como ficam os jovens jogadores em relação ao Draft de expansão?
Assim como no caso de Vegas, os jogadores em seu primeiro ou segundo ano como profissionais estão isentos do Draft de expansão, ou seja, não precisarão ser protegidos. Além disso, as escolhas de Draft que ainda não assinaram contratos também estão isentos automaticamente, sem a necessidade de constarem entre os atletas protegidos.
Em 2017, atletas como Connor McDavid (em seu segundo ano como profissional), Auston Matthews e Mitch Marner (ambos calouros do Toronto Maple Leafs) não precisaram de proteção por se encaixarem nesta regra.