Na primeira final da Stanley Cup jogada em Edmonton desde 2006, o grande campeão da noite não foi o time da casa (que nem nos playoffs estava). Aliás pós-temporada essa que ninguém poderia ter previsto acontecer alguns meses atrás, o projeto de Gary Bettman se provou bem sucedido e o comissário da NHL conseguiu coroar um campeão sem nenhum caso de COVID-19 dentro das bolhas.
Após muitos anos (e várias temporadas regulares impecáveis), o Tampa Bay Lightning finalmente se consagrou campeão da Stanley Cup. A equipe da Flórida venceu o Dallas Stars em seis jogos e alcançou o maior troféu do hockey pela segunda vez na história da franquia. A última vez que os Bolts venceram havia sido em 2004, com nomes como Vincent Lecavalier e Martin St. Louis no elenco, além de estarem à época sobre o comando de John Tortorella.
O jogo seis, disputado no Rogers Centre na última segunda-feira (28), foi um clássico exemplo do quão bem o sistema de Tampa funciona. A equipe treinada por Jon Cooper fez uma partida magistral, tanto por mérito do sistema desenvolvido pelo técnico, bem como todo o talento disponível no elenco. Além disso, Dallas era um time claramente desfalcado, ainda que seus jogadores estivessem no gelo, já que muitos deles estavam com lesões que interferiram diretamente em seu desempenho.
A ESTRADA ATÉ AQUI
Para o Dallas Stars, chegar na final da Stanley Cup foi como voltar para casa depois de um longo período longe dela. Afinal, o time do Texas não chegava tão longe na pós-temporada desde 2000, quando foram derrotados na final pelo New Jersey Devils. Em seu trajeto, a equipe texana venceu o Calgary Flames, o Colorado Avalanche e o Vegas Golden Knights para sagrar-se campeão da Conferência Oeste.
Já o Tampa Bay Lightning fez sua primeira aparição nas finais desde 2015, quando perdeu para o supercampeão Chicago Blackhawks. A sua campanha foi calcada em sangue e lágrimas após a humilhante eliminação no ano passado, quando foram varridos pelo Columbus Blue Jackets. A campanha da equipe floridiana começou com a vingança para cima dos Jackets, seguida do Boston Bruins e contra o New York Islanders na final da Conferência Leste.
A SÉRIE EM PERSPECTIVA
O primeiro jogo foi vencido por Dallas, com gols de Joel Hanley, Jamie Oleksiak, Joel Kiviranta e Jason Dickinson. Do lado de Tampa, Yanni Gourde foi o único a marcar. Já o segundo jogo foi de Tampa, que marcou três vezes no primeiro período, com Brayden Point, Ondrej Palat e Kevin Shattenkirk. Nos dois períodos seguintes Joe Pavelski e Mattias Janmark diminuíram para os Stars, mas a equipe do Texas não conseguiu sequer empatar a partida.
No terceiro encontro da série Tampa viu seu capitão fazer sua única aparição nos playoffs deste ano. Steven Stamkos conseguiu anotar um gol para dar momentum à sua equipe. Além dele, Nikita Kucherov, Victor Hedman, Point e Palat também marcaram. Do lado de Dallas, Jason Dickinson e Miro Heiskanen diminuíram a diferença no placar. O jogo quatro terminou o tempo regular empatado. Para os Bolts, Point (duas vezes), Gourde e Alex Killorn foram os autores dos gols da equipe. De Dallas, tivemos John Klingberg, Pavelski (duas vezes) e Corey Perry. Na prorrogação Shattenkirk venceu a partida para o Lightning, ampliando a vantagem no confronto para 3 a 1.
O jogo cinco foi o primeiro no qual Tampa já tinha a real possibilidade de sagrar-se campeã. Entretanto, a partida foi vencida por Dallas com um gol de Perry na prorrogação. Perry ainda fez um gol no tempo regular, além de seu compatriota Pavelski ter empatado a partida no terceiro período. Do lado dos Bolts, Palat e o jovem defensor Mihkail Sergachev foram os autores dos gols. Por fim, chegamos ao jogo seis, partida final da série. A partida foi vencida com facilidade por Tampa, com gols de Point e Blake Coleman. Além disso, Andrei Vasilevsky teve seu primeiro shutout nos playoffs da NHL.
PLACAR:
- JOGO 1 DAL 4 – 1 TBL
- JOGO 2 DAL 2 – 3 TBL
- JOGO 3 TBL 5 – 2 DAL
- JOGO 4 TBL 5 – 4 DAL (OT)
- JOGO 5 DAL 3 – 2 TBL (OT)
- JOGO 6 TBL 2 – 0 DAL
DALLAS FRAGMENTADO
A equipe texana chegou ao quarto round da pós-temporada depois de deixar para trás nomes que iniciaram a temporada como favoritos, como foi o caso do Colorado Avalanche e do Vegas Golden Knights. Entretanto, seu elenco já ostentava sinais de cansaço. O supertrio de Jamie Benn, Alexander Radulov e Tyler Seguin não marcaram sequer um gol nas finais. O center canadense, inclusive, já ostentava diversas lesões em partes diferentes do corpo.
Além disso, a equipe teve diversas baixas no final da temporada regular, como Radek Faksa, Blake Comeau e até mesmo Roope Hintz. O goleiro Ben Bishop ficou de fora de grande parte da temporada regular, e participou de apenas três partidas nos playoffs. No quesito ataque, os autores dos seis últimos gols da franquia foram os veteranissimos Joe Pavelski e Corey Perry, que assinaram com Dallas na free agency e vê-los no uniforme victory green ainda causa estranheza.
Mesmo assim, ainda que já não esteja mais no seu prime, Pavelski empatou o jogo cinco e fez história, se tornando o maior goleador americano nos playoffs, com 61 gols. Apesar do final triste, o surgimento de talentos como Denis Gurianov e Joel Kiviranta, além de nomes como Miro Heiskanen e Roope Hintz se firmaram como peças importantes da franquia, Dallas pode continuar sonhando com mais campanhas de sucesso no futuro.
A REVENGE TOUR DOS BOLTS
A equipe de Tampa entrou nos playoffs deste ano com uma mentalidade bem diferente dos anos anteriores. Depois de serem objeto de piadas quando foram varridos por Columbus no ano passado, o Lightning tinha muito a provar. Afinal, ainda que seu desempenho na temporada regular fosse costumeiramente excelente, a equipe só havia disputado a final da Stanley Cup uma vez com o elenco atual, em 2015. A superioridade trazida pelos Bolts no dia-a-dia parecia ter dificuldade em se traduzir para uma situação de mata-mata. Isto é, até 2020.
Além da narrativa coletiva, a equipe também possui muitas jornadas individuais interessantes. Kevin Shattenkirk foi bought out pelo New York Rangers, time que escolheu na free agency por ser torcedor desde a infância. No jogo quatro ele foi o responsável pela vitória no overtime, deixando os Bolts a um jogo da conquista do campeonato. Blake Coleman iniciou a temporada no New Jersey Devils, um dos piores times da Liga, quando foi trocado para Tampa próximo à trade deadline.
Zach Bogosian é outro caso. O defensor teve seu contrato com o Buffalo Sabres terminado após ele ter se recusado a se apresentar no afiliado da equipe da American Hockey League (AHL). Logo após o episódio ele assinou um contrato de um ano com Tampa, avaliado em pouco mais de um milhão de dólares. Um dos principais atrativos que levam atletas a assinarem com os Bolts, além, é claro, da competitividade da equipe, é a questão tributária. Os impostos na Flórida são um fator importante ao atrair free agents que aceitam assinar por menos do que receberiam em outros mercados.
Além disso, tal ferramenta é importante nas negociações de extensão contratual com os atletas em momento de renovação. O capitão Steven Stamkos, por exemplo, quando esteve prestes a se tornar um free agent em 2016, aceitou continuar na equipe por um valor menor do que possivelmente ele conseguiria em outros times. Ele, inclusive, foi o maior desfalque da equipe do Lightning nos playoffs, já que estava fora de comissão desde fevereiro. O center canadense esteve no gelo por menos de três minutos nesta pós-temporada, no jogo três das finais, mas mesmo assim deixou sua marca com um gol. Por fim, este elenco campeão dos Bolts tem a presença de Patrick Maroon, que ganhou a Stanley Cup com o St. Louis Blues no ano passado e se tornou o terceiro jogador após a expansão a vencer em dois anos consecutivos, mas por equipes diferentes.
O VIKING E A CONQUISTA DE SEU CONN SMYTHE
Não é de hoje que Victor Hedman é um dos principais nomes dentre os defensores da Liga. Afinal, o sueco foi o finalista do James Norris Memorial Trophy em nada menos do que quatro oportunidades diferentes, conquistando-o em 2018. Nos playoffs deste ano Hedman jogou cerca de 26 minutos por noite, com um leque de outros defensores como seu par. O sueco marcou 10 gols, se tornando o terceiro defensor com mais gols atrás de Paul Coffey e Brian Leetch.
Discreto como seus demais compatriotas na Liga, o defensor foi apenas o terceiro sueco a ser consagrado o MVP dos playoffs. Apenas Nicklas Lidstrom e Henrik Zetterberg, ambos do Detroit Red Wings, receberam o Conn Smythe. Além disso, Hedman se junta a Brad Richardson, se tornando o segundo atleta na história do Tampa Bay Lightning a ganhar o troféu.
Mesmo com Hedman se destacando tanto na blue line dos Bolts, a disputa foi acirrada. Enquanto o sueco teve 70 pontos, que lhe garantiram o Conn Smythe, o center canadense Brayden Point ficou em segundo lugar com 66, apenas quatro pontos a menos. Os outros dois nomes que apareceram nos votos foram o superstar russo Nikita Kucherov e o goleiro Andrei Vasilevsky, sem dúvidas um dos maiores nomes em sua posição atualmente.
A votação ficou da seguinte forma:
Victor Hedman 70 pontos (9-8-1)
Brayden Point 66 pontos (8-8-2)
Nikita Kucherov 25 pontos (1-2-14)
Andrei Vasilevsky 1 ponto (0-0-1)
A votação foi feita no formato de 5-3-1 pontos para primeiro, segundo e terceiro lugares, respectivamente, e os votos foram submetidos faltando 10 minutos para o final do jogo 6.
MOMENTOS NOTÁVEIS DAS FINAIS (segundo o NHL.com)
O primeiro gol da final foi também a primeira vez que o jovem defensor Joel Hanley marcou na NHL, com assistência de Roope Hintz, estrela de Dallas nos playoffs de 2019.
A defesa de Anton Khudobin no finalzinho do primeiro jogo, impedindo que Anthony Cirelli empatasse a partida.
O retorno icônico de Steven Stamkos, capitão de Tampa que esteve fora do rinque desde o início do ano com uma lesão misteriosa. O center canadense entrou na partida, fez um gol e foi embora, jogando apenas 2:47 minutos durante o jogo 3. (O momento favorito da autora que vos fala)
Depois de ter sido bought out pelo New York Rangers, Kevin Shattenkirk foi para Tampa receber muito menos do que seu valor de mercado. O defensor americano venceu a partida para os Bolts com seu gol na prorrogação do jogo quatro.
O gol de Corey Perry na segunda prorrogação do jogo cinco deu esperanças à torcida de Dallas, forçando o jogo seis.
A cerimônia de premiação foi um pouco diferente, após um pedido do Lightning. Ao invés do capitão, solitário, buscar o troféu junto a Bettman, toda a equipe se reuniu ao redor do pódio onde a Stanley Cup se encontrava.
Para finalizar, precisamos falar do momento mais 2020: a falta de vaias a Bettman, devido aos jogos se realizarem em uma arena vazia. Brincadeiras à parte, ver jogadores e comissão técnica ligarem para seus familiares em chamada de vídeo do gelo apenas acrescentou mais uma camada de surrealismo nesta pós-temporada que ficará marcada para sempre na história da NHL.
A cobertura NHeLas dos playoffs fica por aqui. Nos vemos em 2021, quem sabe não é a vez do seu time levantar Lord Stanley? 🙂
(Foto: TampaBay.com/Reprodução)
2 Comments
[…] Após muitas turbulências e reviravoltas, a temporada 2019/20 da NHL chegou ao seu fim. E com grande êxito por parte das bolhas, assistimos o Tampa Bay Lightning se tornar o novo campeão da Stanley Cup 2020. […]
[…] O Lightning vem com a versão repaginada da camisa que ganhou seu primeiro título em 2004, com a atualização do azul que usou para levar seu segundo título em 2020. […]
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