Não é nenhum mistério para quem acompanha a NHL que o Dallas Stars é um dos times underdogs – palavra que muitos associam com “perdedor”, ou “azarado”. Como torcedora, apesar das memórias que o significado da palavra trazem a minha mente, não acho que seja completamente errado se referir a Dallas dessa forma. Em partes, acredito que até o próprio time reconheça as suas falhas e status.
Mas, após um ano conturbado, não vim aqui falar apenas do sentido ruim que a palavra traz. Se conseguirmos parar e olhar por outra perspectiva, existe um lado positivo. O lado que nos prova que, apesar da derrota, um underdog nunca desiste de tentar, e de ultrapassar os próprios limites que, não apenas os demais estabeleceram a ele, mas que ele estabeleceu a si mesmo.
É isso que Dallas tem feito, desafiado a si mesmo a cada temporada, na esperança de alcançar por fim o seu final feliz (uma Stanley Cup, caso ainda reste dúvidas, já que muitas vezes, caro leitor, tenho tendência a ser mais dramática do que o necessário). Por isso, este texto é sobre ocupar o segundo lugar, e porque, por hora, para um time que está encontrando seu caminho de volta, está tudo bem.
As decepções ensinam mais do que podemos imaginar
Desde que comecei a acompanhar o hockey em 2018, os Stars tiveram duas decepções, resultado de derrotas. Coincidentemente, ambas nos playoffs. Derrotas que doeram não apenas no torcedor, mas ainda mais no time.
As decepções tendem a doer ainda mais quando criamos expectativas. Se as coisas estão indo bem, por que não colocá-las em um alto patamar? É algo normal do ser humano.
Lá em 2019, após a vitória no primeiro round, não foi diferente com os Stars. Depois de uma temporada difícil, e repleta de obstáculos, a comunidade do hockey considerava quase improvável que o time do Texas avançasse na competição. Ainda mais improvável que chegasse tão longe ao ponto de conquistar sua segunda Stanley Cup.
Mas, outra vez, o underdog provou que podia ultrapassar os limites impostos, derrotando assim Nashville e se classificando para a segunda rodada dos playoffs da Stanley Cup de 2019. Do ponto de vista de uma fã, posso garantir para todos vocês que o round contra o St. Louis Blues foi difícil, por falta de uma palavra melhor.
No fim, quando o apito final soa, o melhor time acaba ganhando. No hockey, não é apenas o talento que influencia na vitória de uma equipe. O cansaço, condicionamento físico e, principalmente, o timing são fatores cruciais.
Aaquele não era o momento do Dallas Stars. Novamente, como fã, a derrota doeu. Lembro de me sentir estranha ao final daquele Jogo 7 contra os Blues em 2019, como se fosse o meu sonho tendo um fim. Mas a derrota não doeu tanto em mim quanto doeu em cada um dos jogadores de Dallas, que trabalharam incansavelmente até o último segundo da partida.
Em horas como essas, é difícil para o torcedor se colocar no lugar do jogador do seu time, e, por isso, os julgamentos são feitos. Até o momento em que a equipe divulga a lista de lesões dos jogadores nos playoffs.
Aqui, o nosso coração fica menor, sabendo que tudo que estava ao alcance de cada integrante da equipe foi feito. Inclusive sacrificar-se além dos seus próprios limites, mas essa é uma discussão para outro momento.
A derrota foi um balde de água fria para Dallas, que acreditou que o sucesso na corrida dos playoffs seria suficiente. Voltar para casa de mãos vazias não era uma opção que havia sido considerada pelo time a essa altura do campeonato, mas que agora era a realidade.
No entanto, as decepções ensinam muito sobre quem somos, e fez o mesmo com o Dallas Stars que, ao voltar para o Texas, sentiu que era o momento de aprender sobre si mesmo. Essa era a única forma de entender seus erros para, assim, consertá-los, tentar novamente e ter êxito.
Exceder as expectativas é a consequência merecida do trabalho árduo
Mesmo com as lições proporcionadas pela temporada anterior, os Stars não iniciaram 2019-20 da maneira desejada. Contabilizando mais derrotas do que vitórias na tabela, foram meses até que o time atingisse estabilidade na liga e se mantivesse na zona de classificação para os playoffs.
Mesmo alcançando um bom desempenho em meados do calendário regular, sua instabilidade não tornou o time um dos favoritos a conquistar a Stanley Cup aos olhos de quem acompanha a NHL.
Com a pausa devido à Covid-19, a liga se reorganizou, e uma temporada totalmente diferente do que estamos acostumados teve continuidade. Com uma pausa tão grande, a tendência era que times com bom desempenho anteriormente pudessem decair.
Apesar do mau desempenho durante o round robin, nós pudemos assistir um Dallas Stars diferente com a volta da NHL. Diferente para melhor. Ao derrotar o Calgary já na primeira etapa, a equipe mostrou que estava ainda mais disposta a batalhar pelo seu lugar na competição.
No entanto, nós sabemos que vencer o primeiro round dos playoffs não pode ser lido como algo além de vencer o primeiro round dos playoffs. O início da competição é incerto, e até a Final, muitas coisas podem acontecer.
Porém, vencer o Colorado Avalanche no segundo round nos fez parar e pensar que, talvez (e apenas talvez), Dallas pudesse avançar consideravelmente na competição.
Aqui, presenciamos um Dallas Stars que saiu da sua zona de conforto para tentar uma abordagem diferente e se tornar o time ao qual as pessoas querem assistir. Um Dallas que ataca continuamente desde o primeiro segundo da partida e só descansa quando o apito final soa. Que arrisca com jogadores que, mais tarde, se tornariam figuras essenciais de um elenco que estava redescobrindo o estilo de jogo da equipe.
No segundo round, percebemos o quanto o time é importante para as suas grandes lideranças, que souberam se afastar para dar espaço para aqueles que mudariam a história dos Stars nos playoffs de 2020, e colocariam o seu nome escrito na do hockey. Menção honrosa a Denis Gurianov, Anton Khudobin, Joel Kiviranta, e muitos outros que foram cruciais para que o time conseguisse avançar.
Se vencer o Colorado Avalanche foi surpreendente, garantir uma vitória na Final de Conferência contra o Vegas Golden Knights fez com que expectativas ainda maiores fossem criadas sobre uma possível vitória da Stanley Cup por Dallas. Esse foi um momento histórico para qualquer pessoa que sempre viu grande potencial no underdog do Sul.
Foram anos até que os Stars chegassem nessa posição. Em uma temporada tão atípica, que testou muito além dos limites físicos, considerei cada jogador do meu time um vencedor. Vencedores por irem além dos limites estabelecidos por eles mesmos. Vencedores porque ninguém acreditava que Dallas chegaria tão longe na competição.
Mesmo esperançoso, meu coração de torcedora sabia que, caso o pior viesse acontecer, seria grata por aquela experiência. E o melhor: senti que Dallas seria grato por chegar até aquele momento. Depois de anos remando contra a maré para chegar até a beira mar, colocar os pés na areia já era o suficiente para trazer a melhor sensação do mundo para o time.
Nada acontece como esperamos – e está tudo bem
No entanto, mesmo com o esforço, dedicação, e tudo de mais importante que foi colocado em jogo para garantir o troféu, aquele ainda não era o momento de Dallas. Após seis jogos, o time deu adeus definitivo para a temporada 2019-20 e assistiu ao Tampa Bay Lightning levantar a Stanley Cup – conquista mais do que merecida pela equipe.
Como responsável por cobrir o live tweet do dia 27 de setembro no site, eu criei esperanças e também vi meu time ser derrotado diante dos meus olhos. Ao vivo. E doeu. Pela segunda vez.
A dor do torcedor se tornou maior por ver a dor nos olhos dos nossos jogadores. Era possível sentir o quanto aquilo era importante para a equipe, e o quanto foi sacrificado para que eles chegassem até aquele momento.
Quando se cria expectativas muito altas sobre algo, a queda acaba sendo difícil de superar. E foi. Naquele dia 27 de setembro de 2020 foi muito difícil.
Mas quando o caos chegou ao fim, e pude pensar com mais clareza, conclui que, naquele momento, estava tudo bem que, naquela temporada, aquele fosse o fim do Dallas Stars. Então, passei a pensar nas coisas positivas que tudo isso trouxe para o time.
Um estilo de jogo ainda melhor, e que mostra a essência dos Stars, diversos recordes que foram ultrapassados, novos talentos descobertos, e quatro rounds dos quais Dallas deveria sentir orgulho. Orgulho por chegar tão longe, e desafiar os seus próprios limites. Orgulho por saber que, no fim, o time fez o que estava ao seu alcance. E acredito que isso seja o mais importante: dar o nosso melhor a partir do que nos é oferecido.
Confesso que todas essas palavras podem ter soado apenas como um simples apanhado de clichês reunidos em um texto só. Mas o clichê não tira a veracidade do fato de que todas as coisas acontecem quando tem de acontecer. Queira eu, você, os torcedores de Dallas e a própria equipe aceitar ou não.
Dallas ainda está se reconstruindo, se reencontrando, e muitas vezes, vai ser difícil aceitar as consequências disso, porque sempre vamos esperar que o melhor aconteça. Essa é uma característica do ser humano – e do fã apaixonado pelo seu time. O Dallas Stars vai se desenvolver, vai mostrar todo o seu potencial, e vai impressionar a todos e a si próprio. O ano de 2020 não era o momento, mas ele ainda vai chegar.
Por hora, está tudo bem ocupar o segundo lugar. A vista daqui permite que o Dallas olhe para trás, e veja a caminhada incrível que já percorreu. Mas também possibilita que o time olhe para frente, e veja que o caminho até a Stanley Cup está mais perto do que imaginou.
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