Atualmente, estima-se que cerca de 1.561 mulheres árbitras sejam registradas nos Estados Unidos. A primeira notícia que se tem de uma mulher apitando uma partida de hockey profissional data de 1995. Heather McDaniel apitava jogos de ligas profissionais menores da Central Hockey League e da West Coast Hockey League. Porém, quando ela engravidou e se aposentou em 1999, nenhuma outra mulher apitou alguma partida profissional.
As árbitras geralmente têm opções limitadas de atuação, e são encontradas em sua maioria em níveis júnior e universitários. A existência de ligas de hockey femininas, como a NWHL (Liga de Hockey Feminina dos Estados Unidos) nos mostra que o mundo do hockey pertence também às mulheres. Porém, para que o jogo possa de fato crescer, é preciso incentivar algo que às vezes é muito esquecido: o mundo da arbitragem.
O trabalho de arbitragem é o mesmo, independente do gênero de quem apita. De acordo com as regras da IIHF, os árbitros podem sinalizar timeouts, gols e penalidades, enquanto os oficiais de linha (linesman) são responsáveis por sinalizar icing, offsides, dentre outras penalidades. Há somente uma diferença. Aos árbitros do hockey masculino, é permitida uma penalidade adicional: as dos hits, que não são permitidos na modalidade feminina.
Desta forma, a falta de representação feminina nos meios esportivos é um dos maiores fatores que podem vir a atrapalhar o desenvolvimento de atletas e de profissionais esportivas. Por isso, o trabalho de mulheres nesses meios é feito com muito esforço, já que muitas vezes não possuem qualquer ajuda ou incentivo exterior. Mesmo assim, cotidianamente, muitas mulheres lutam para que isso mude no futuro.
O Combine Exposure de 2019
História foi feita em setembro de 2019, quando quatro mulheres foram selecionadas para apitar os campeonatos rookie de no Exposure Combine 2019. Esse momento foi marcante para a história das mulheres, principalmente para as que atuam na arbitragem.
Outro momento importante, foi quando a competição All-Star Skills 2020 da NHL em St. Louis, em janeiro, foi pioneira ao sediar um evento feminino. O evento contou com o jogo de três a três das mulheres de elite entre o Canadá e os EUA. Assim, quem apitou a partida, foi o mesmo quarteto chamado para o Exposure Combine de 2019, composto por Katie Guay, Kelly Cooke, Kirten Welsh e Kendall Hanle
O combine deu a chance dessas árbitras ficarem em evidência, tanto que foram chamadas para o All Star Game. Consequentemente, o All Star Game, que teve um público de 18.000, chamou a atenção ao hockey feminino. São atitudes como essas que acabam fazendo muito efeito nas conquistas igualitárias das mulheres, mesmo que ainda sejam pequenas. O comissário Bettman disse, em uma entrevista sobre equidade, que a mudança é necessária.
“Juntos, precisamos evoluir, vamos aprender com as oportunidades uns dos outros e seremos melhores (…) É sobre o que temos em comum, não o que nos separa. E, na medida em que existem segmentos particulares da sociedade que foram deixados para trás, temos a oportunidade de elevar e aproximar mais pessoas”.
Todavia, este não é um problema exclusivo da NHL. Apesar da NBA já contar com mulheres apitando desde 1998, a NFL só teve uma primeira mulher a apitar uma partida em 2015, nos Playoffs.
Uma árbitra na NHL
Paul Stewart, Árbitro aposentado da NHL, disse que é necessário que mais mulheres seguissem seus passos como árbitro.
“Eu quero que alguém quebre essa barreira”, disse Stewart, que agora é diretor de arbitragem na NCAA. “Não é preciso um cromossomo X ou Y que faz você levantar o braço e chamar uma penalidade. É preciso cérebro e coragem.”
Mas quando essa barreira será quebrada? A árbitra Katie Guay, de 37 anos, que possui experiência nas Olimpíadas de Pyeongchang foi a primeira mulher a arbitrar a partida entre Boston College contra Harvard em 67 anos de história no prestigiado torneio de hockey em Boston. Guay também acredita que a NHL tem ajudado com algumas medidas de inclusão.
“(…) Pude ver que a NHL tem tomado várias medidas para abrir portas e oferecer oportunidades para as mulheres. Chegar à NHL não é uma tarefa fácil – para jogadores e árbitros (…). Acho que é apenas uma questão de a primeira mulher ter experiência e provar a capacidade de competir nesse nível”.
Kelly Cooke complementou:
“Isso acontecerá em algum momento, quando eles encontrarem a pessoa certa para fazer o trabalho. Não importa quem vai quebrar essa barreira, acho que todos nós estaremos lá assistindo e apoiando essa pessoa. (…) No entanto, só o tempo irá dizer.”
De fato, nunca é possível prever o futuro. A aceitação de mulheres no meio esportivo ainda caminha em passos pequenos, por conta do preconceito e do tradicionalismo de muitos esportes. Contudo, essas pequenas ações de apoio acabam normalmente sendo um grande empurrão. Mas sem o verdadeiro apoio e incentivo e, principalmente, a falta de representação, as árbitras ainda poderão ter um longo caminho a percorrer.
Vale ressaltar que a batalha é como escalar uma escada, e que eventualmente as árbitras poderão estar no topo. Katie Guay disse que a melhor maneira de uma árbitra conseguir enfim chegar na NHL um dia é se elas pudessem ter mais oportunidades de apitar jogos júniors das ligas masculinas. E que só assim, o sonho de finalmente apitarem uma partida da NHL, será realizado.