As Olimpíadas de Inverno de PyeongChang 2018 trouxeram para o hockey uma chance de mostrar ao mundo que o esporte não vive apenas de NHL. Isso porque os jogadores da liga estavam proibidos de ir aos Jogos defender as bandeiras de seus países.
Dessa vez, a Coreia do Sul sediou o evento, mais precisamente na cidade de Pyeongchang. Os Jogos aconteceram em fevereiro, começando no dia 9 de fevereiro e terminando dia 25.
O escândalo de doping que veio a tona em 2017 afetou a participação da Rússia nas competições, já que, como punição, o Comitê Olímpico Russo foi banido de qualquer participação nas Olimpíadas de Inverno de 2018.
Contudo, houve outra forma dos atletas russos competirem nos eventos. Assim, aqueles sem violações anteriores de drogas e com um histórico consistente de testes poderiam competir, sob uma bandeira neutra e denominado como “Atleta Olímpicos da Rússia” (Olympic Athlete from Russia, ou OAR, em inglês).
Segundo os termos do edital do COI (Comitê Olímpico Internacional) nenhum funcionário do governo russo poderia participar dos Jogos. Da mesma forma, a utilização da bandeira russa e execução do hino nacional russo também estavam banidos. No lugar, a bandeira olímpica e o hino olímpico deveriam ser usados quando atletas russos chegassem ao pódio.
Mesmo com toda essa adversidade, além da pressão criada pelos rigorosos exames antidoping, os russos conseguiram faturar a medalha de ouro no hockey no gelo maculino em 2018. Por outro lado, a modalidade feminina se tornou uma das competições mais acirradas daquele Jogos Olímpicos.
Isso porque, diferentemente do masculino, em que a Rússia demonstrou hegemonia no gelo, as seleções do Canadá e Estados Unidos disputaram jogo a jogo quem subiria no lugar mais alto do pódio. Neste texto do especial 10 for 10, relembramos como foram as Olímpiadas de Inverno 2018 nas modalidades masculina e feminina do hockey no gelo.
Cerimônia de abertura
O Estádio Olímpico de Pyeongchang, construído especificamente para os Jogos, foi escolhido para hospedar a cerimônia de abertura das Olímpiadas de Inverno 2018, recebendo atletas do mundo inteiro e acomodando 35.000 pessoas. Os organizadores do evento disseram que a forma pentagonal do Estádio foi escolhida através de uma combinação de formas diferentes, com um círculo, um quadrado e um triângulo, que representam o céu, a terra e a humanidade.
O curioso sobre o Estádio de Pyeongchang é que ele não foi planejado para competições, nem olímpicas nem paraolímpicas, mas sim apenas para realizar a cerimônia de abertura. Dessa forma, o local foi demolido depois da cerimônia.
A principal mensagem da cerimônia foi sobre a paz, paixão, harmonia e convergência. Cinco crianças da província rural de Gangwon participaram da cerimônia, que incluiu um Inmyeonjo (uma criatura mítica com corpo de pássaro e cabeça de humano, criatura que só aparece quando o mundo está em paz). Além disso, a cerimônia contou com outras quatro criaturas míticas, incluindo um tigre branco – protetor animal do espírito da Coreia.
Modalidade Feminina
Em 2018, a modalidade feminina foi marcada por duas pequenas mudanças no quadro de países participantes: a primeira com a seleção sul-coreana, que automaticamente se classificou por ser a anfitriã, e teve um pequeno acréscimo no seu quadro de jogadoras. Isso porque a seleção norte-coreana teve autorização para participar juntamente da seleção anfitriã, trazendo pela primeira vez uma seleção unificada das Coreias.
Desta maneira, a seleção coreana expandiu para 35 jogadoras, com 22 participando de cada jogo e três jogadoras norte-coreanas sendo selecionadas pela treinadora. Ao todo, foram 12 jogadoras norte-coreanas se revezando nos jogos.
A outra mudança foi a da seleção russa, que, como na modalidade masculina, as atletas não puderam assumir a sua bandeira. Assim o campeonato seguiu o formato padrão de oito equipes divididas em dois grupos. No grupo A, as seleções do Canadá, Estados Unidos da América, Finlândia e Atletas Olímpicos da Rússia. Já o grupo B foi composto pela Coreia, Japão, Suécia e Suíça.
Sem nenhuma surpresa e com a já conhecida rivalidade, Estados Unidos e Canadá foram as primeiras equipes a se classificar para as semifinais ainda na fase preliminar, criando assim uma expectativa para o público.
Por outro lado, as seleções da Coreia e do Japão disseram adeus a competição, deixando para Finlândia, OAR, Suécia e Suíça competirem entre si durante as quartas de final.
Avançando para as semifinais, os times norte-americanos fizeram um espetáculo no gelo, desta vez contra as equipes da Finlândia e dos Atletas Olímpicos da Rússia. Em somente um jogo cada, ambas as partidas terminaram em 5 a 0, gerando muita expectativa para o clássico feminino Canadá e EUA que se enfrentaria na final. A disputa de bronze ficou para ser disputada entre Finlândia e OAR.
A Final Feminina
A decisão aconteceu no dia 22 de fevereiro. Com nomes já conhecidos pelo público, ambas as seleções chegaram prontas para levar a tão desejada medalha de ouro para casa.
Numa briga acirrada, todo mundo queria ser o primeiro a balançar a rede, e foi a atacante Hilary Knight que o fez, no final do primeiro período. Com assistência de Brianna Decker e Sidney Morin, a seleção estadunidense estabeleceu a primeira vantagem na partida.
Infelizmente para elas, Haley Lyn Irwin e Blayre Turnbull não deixaram que o jogo fosse tão fácil assim e empataram o placar logo no início do segundo período. Em seguida, Marie-Philip Poulin aumentou a vantagem para o lado canadense, com uma ajuda de Meghan Agosta e Melodie Daoust.
Entretanto, a final olímpica entre duas potências do hockey não estava definida ainda. Ao final do terceiro período, Monique Lamoureux, com uma assistência da atacante Kelly Pannek, balançou a rede canadense e empatou a partida garantindo mais tempo para a seleção dos EUA.
Sem outra alternativa, o jogo acabou indo para overtime, que finalizou sem nenhum gol e, portanto, a partida seguiu empatada. Dessa forma, apenas com os pênaltis que foi possível decidir quem levaria a medalha de ouro para casa. Foi assim que a outra metade da dupla Lamoureux, a atacante Jocelyne, balançou a rede e marcou o gol final que garantiria a vitória para a seleção dos Estados Unidos.
Modalidade Masculina
Em três de abril de 2017, a NHL anunciou que seus jogadores não estariam disponíveis para atuar nas Olímpiadas de Inverno 2018. Esta foi a primeira vez desde 1998 que os jogadores da liga ficaram proibidos de participar do torneio olímpico masculino de hockey no gelo.
Isso aconteceu devido a uma discordância entre a NHL, a Federação Internacional de Hockey no Gelo (IIHF) e o IOC sobre qual órgão seria responsável por cobrir o custo de indenizar os jogadores da NHL que participassem dos Jogos.
Embora o COI tenha pago os jogadores da NHL nas Olimpíadas de 2014 em Sochi, com um custo de 14 milhões de dólares, a comissão não estava disposta a fazê-lo novamente em PyeongChang 2018, devido a preocupações de que isso abriria um precedente e outras organizações esportivas profissionais poderiam esperar um tratamento semelhante.
Contudo, Ilya Kovalchuk, que na época jogava no SKA Saint Petersburg (KHL), pôde participar. Kovalchuk foi draftado pelo Atlanta Trashers e havia passado por diversos times na NHL, tendo realizado seu retorno à liga após os Jogos.
Nikita Gusev, Kiril Kaprizov, Igor Shestyorkin, Ilya Sorokin são alguns jogadores que atualmente estão na NHL e que ganharam a medalha de ouro em 2018.
No total, doze países se classificaram para o torneio; oito deles automaticamente pela classificação no mais alto nível das competições da IIHF (Canadá, Rússia, Suécia, Finlândia, Estados Unidos, República Tcheca, Suíça e Eslováquia). A Coreia do Sul qualificou-se automaticamente como anfitriã, enquanto os outros três países (Eslovênia, Alemanha e Noruega) participaram de um mini-torneio em que puderam garantir suas vagas.
Os russos não ganhava uma medalha de ouro no hockey desde 1992. Vale ressaltar que naquela ocasião, o país também não conquistou o ouro como a seleção russa. Isso porque, na época, a recém-separação da União Soviética proporcionou que os seis Estados (Federação Russa, Ucrânia, Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia e o Uzbequistão) competissem como uma Equipe Unificada.
No caminho até a final, os Atletas Olímpicos da Rússia tiveram de enfrentar a Eslovênia, a Eslováquia e os Estados Unidos nas rodadas preliminares. Com 6 pontos conquistados, a equipe já estava classificada as quartas-de-final, onde enfrentou a Noruega.
A equipe passou com facilidade pela Noruega, com gols de Mikhail Grigorenko, Nikita Gusev, Slava Voynov, Sergey Kalinin, Nikita Nesterov e Ivan Telegin. O único gol que a equipe norueguesa fez foi de autoria de Alexander Bonsaksen. Do outro lado, a Alemanha eliminou a Suécia em um jogo emocionante de OT.
As semifinais então ficaram entre OAR e a República Checa, e Alemanha contra o Canadá. Os russos levaram a melhor, ganhando de 3-0.
Em outro jogo emocionante, resolvido na prorrogação, a Alemanha eliminou a seleção do Canadá. Assim, foi a primeira vez desde a reunificação da Alemanha que eles chegavam a uma final olímpica. Na época, o Canadá sofrer a eliminação para a Alemanha foi algo inesperado, já que era considerado favorito ao título, mesmo sem os jogadores de elite da NHL.
Na semifinal, a seleção canadense saiu perdendo por 4-1, porém, conseguiu deixar o jogo 3-4, com alguma esperança da vitória. Contudo, a equipe Alemã foi superior no jogo e conseguiu conquistar a vaga na final contra os Atletas Olímpicos da Rússia.
A decisão
A final aconteceu no dia 25 de fevereiro. Os russos eram os favoritos devido ao seu grande elenco composto por jogadores da KHL, e de alguns veteranos da NHL. Porém, não se podia subestimar a Alemanha, afinal, eles eliminaram outras potências do hockey, como o Canadá.
Quem abriu o placar do jogo foi Slava Voynov, com assistência de Nikita Gusev (New Jersey Devils). Contudo, Felix Schutz não deixaria assim por muito tempo e marcou após 10 minutos do segundo período, empatando a partida.
Gusev fez o segundo gol da equipe, e o seu primeiro na partida. Com assistência de Kiril Kaprizov (Minnesota Wild), o placar ficou 2-1. Todavia, os alemães não desistiriam tão fácil. Assim, o gol de empate foi feito por Dominik Kahun (Buffalo Sabres).
Jonas Muller marcou o gol da virada da Alemanha, e então, o jogo estava 3-2 para os alemães. Novamente, Gusev marcou, empatando a partida que eventualmente foi para overtime.
Enfim, Kirill Kaprizov foi quem marcou o gol de vitória na prorrogação para os russos. Esta se tornou uma partida histórica, já que a equipe teve de sair de um déficit de 2 gols para enfim levar a medalha. Gusev acabou o torneio como o jogador com mais pontos (12, 4 gols e 8 assistências). As formas com que as duas equipes jogavam, com muita intensidade, também contribuiu para a emoção dessa final.
Recentemente, em um novo CBA, a NHL voltou a permitir a participação de seus jogadores, visando os Jogod de Inverno de Beijing 2022 e Milano Cortina 2026. Contudo, por conta do banimento que agora perdura até 2023, provavelmente veremos os jogadores da Rússia novamente com outro nome.
No entanto, isso não diminuirá a habilidade e talento dos atletas russos possuem, visto o desempenho mostrado em 2018. Muitos jogadores que antes atuavam na KHL agora atuam na NHL, e quem sabe, eles possam sonhar com um bicampeonato em 2022.
Foto: Reprodução / russiabeyond.com