As qualificatórias da Stanley Cup tiveram início no dia 1° de agosto, após a pausa em março por conta da pandemia do novo coronavírus. O jogos irão até domingo, dia 8, e por enquanto somente o New York Rangers foi eliminado para o Carolina Hurricanes após 3 jogos.
Foram 142 dias sem hockey, e muitas coisas aconteceram nesse intervalo de tempo enquanto a Liga estava parada. Um dos assuntos que foi muito debatido no meio esportivo foi o racismo no hockey. Na história do hockey existiram, e ainda existem, poucos jogadores negros.
Seja por conta de uma filosofia da própria cultura do hockey, que pode ser resumida em não falar sobre outros assuntos a não ser o esporte, ou talvez simplesmente pelo hockey ser um reflexo de uma sociedade ainda muito racista, fato é que tal assunto não pode ser ignorado mais.
Um dos gestos mais significativos contra o racismo aconteceu quando Matt Dumba, defensor do Minnesota Wild, que é Filipino-Canadense, se ajoelhou durante o hino nacional dos EUA, na partida entre Edmonton Oilers e Chicago Blackhawks. Os jogadores das equipes cercaram Dumba enquanto ele discursava e ao seu lado estavam mais dois jogadores negros, Malcolm Subban dos Blackhawks e Darnell Nurse dos Oilers. Os dois colocaram as mãos nos ombros de Dumba em gesto de solidariedade.
“Durante a pandemia, algo inesperado porém que já deveria ter acontecido antes ocorreu: O mundo acordou para a existência de um racismo sistêmico que se encontra profundamente enraizado em nossa sociedade,” Dumba disse. “O racismo é uma criação do homem e a única coisa que ele faz é atrapalhar nossa prosperidade coletiva. (…) O racismo está em toda parte e devemos lutar contra isso.(…) Eu sei em primeira mão, como minoria que joga hockey, como pode ser difícil estar no esporte. A Hockey Diversity Alliance quer que crianças se sintam seguras e confortáveis sempre que entrarem em alguma arena”
A aliança, um grupo de atuais e ex-jogadores da NHL, foi formada em junho com a missão de erradicar o racismo e a intolerância no hockey. Dumba terminou seu discurso com o lema “Black Lives Matter”. Ele também lembrou da morte de Breonna Taylor, técnica médica de emergência negra que foi morta a tiros pela polícia em seu apartamento em Louisville, Kentucky, em 23 de junho. Ele ainda disse “o hockey é um ótimo jogo, mas poderia ser muito maior e começa com todos nós “.
Matt Dumba levantou o punho nos hinos dos Estados Unidos e do Canadá
A atitude de se ajoelhar foi inédita na NHL. Contudo, a primeira pessoa a levantar o punho foi JT Brown, durante sua permanência no Tampa Bay Lightning em 2017. Ele, que agora joga no Iowa Wild, afiliada do Minnesota Wild, protestou também contra a brutalidade policial e o racismo.
No jogo entre Minnesota Wild e Vancouver Canucks, Matt Dumba protestou novamente. Dessa vez, ele levantou os punhos da mesma forma que seu ex-colega de equipe. Para Dumba “o gesto de levantar o punho é um sinal mais forte do que se ajoelhar se eu estiver no banco, pois ele pode não ser visto pelas câmeras no último caso”.
Ele ainda afirmou que continuará a protestar publicamente contra a injustiça racial durante os playoffs.
Aliados nos protestos
Até a segunda-feira, dia 03, Matt Dumba tinha sido o único jogador a se manifestar nos rinques de gelo. Muitos jogadores podem se opor ao gesto ou até mesmo não achar necessário fazer tais atitudes, por isso a falta de apoio com Dumba. Esse cenário é bastante diferente se olhado para os outros esportes americanos, no qual é possível sempre ver mais de um jogador se manifestando. Vale ressaltar que na NBA, todos os jogadores e funcionários do Los Angeles Lakers e do Toronto Raptors se ajoelharam para os hinos canadenses e americanos quando essas equipes se encontraram em uma partida que aconteceu em Orlando, na Flórida.
Contudo, no jogo entre Vegas Golden Knights e Dallas Stars, esse cenário mudou. Ryan Reaves, Robin Lehner, Tyler Seguin e Jason Dickinson ajoelharam-se para os hinos dos EUA e do Canadá antes do jogo no Rogers Place.
“Conversei com o Reaves nos aquecimentos. Ele disse que ele e Lehner iriam se ajoelhar e perguntou se eu gostaria de me juntar a eles. Eu disse: ‘Absolutamente'”, disse Tyler Seguin.
“Antes do jogo, entrei no vestiário e contei a todos (…) Disse a eles que não havia pressão para fazer nada. Dickinson então me contou que gostaria de fazer parte, apoiando a causa e no que acreditamos.”
“É hora de começar a fazer algo, não apenas deixar que isso seja um ciclo de notícias,” disse Lehner. “Todos devem ter a mesma chance na sociedade, todos devem ser tratados da mesma forma.”
É importante ressaltar como o apoio de jogadores brancos nesse momento é importante para a causa, já que deixar os jogadores negros lutarem por algo que eles já lutam apenas existindo, é um fardo que se torna difícil e solitário sem apoio de seus colegas.
Foto: NHL/Reprodução