Uma das principais ligas profissionais de hockey no mundo, a Kontinental Hockey League (KHL) [Континентальная хоккейная лига (КХЛ), em russo] é formada, em sua grande maioria, por países ex-integrantes da antiga União Soviética (URSS) e da China. Em termos de importância, ela é definitivamente a próxima no ranking, depois da NHL. Antes de 2008, a Liga se limitava ao território russo, tendo o nome de Russian Championship League ou Russian Super League, mas após a inclusão de países da ex-URSS, adotou o nome de KHL.
Inicialmente, a liga possuía equipes dos seguintes países: Rússia, Belarus, Cazaquistão e Ucrânia. Posteriormente, a partir de 2011 também passaram a contar com representantes da Eslováquia, República Tcheca, Croácia e Finlândia, por exemplo.
O acidente aéreo que comoveu o mundo do hockey
O ano de 2011 foi marcante para a história da KHL, considerando a tragédia ocorrida com a equipe do Lokomotiv Yaroslavl. Em 07 de setembro de 2011 o avião que levava a equipe russa, juntamente com os integrantes da comissão técnica, caiu durante a decolagem na cidade de Yaroslavl. O time viajava para Minsk, capital da Bielorrúsia, para o primeiro jogo da temporada 2011/2012 da KHL.
Todos que estavam a bordo da aeronave morreram, todos os jogadores do plantel do Lokomotiv, além de quatro jovens da equipe juvenil do clube. O único sobrevivente do acidente foi o mecânico do avião. Em homenagem ao acidente, o dia 07 de setembro passou a ser uma data de luto, ou seja,não foram disputadas partidas na liga até a temporada 2017-18.
As idas e vindas dos clubes
Após um ano da sua entrada na KHL, a equipe eslovaca Lev Poprad deixou de existir. O mesmo aconteceu com a tcheca Lev Praha, que participou da liga de 2012-13 até 2014-15. O também eslovaco, Slovan, deixou a KHL em 2019-20 devido a problemas financeiros. A equipe croata do Medveščak entrou na liga em 2013-14 e a deixou alguns anos depois, em 2017-18.
Outras equipes que deixaram a liga foram as russas Khimik (2009-10), Lada (2010-11), Dynamo M (2010-11), MVD (2010-11), Lokomotiv (2011-12) Spartak Moscow (2014-15), Atlant (2015-16), Metallurg Novokuznetsk (2017-18), Lada (2018-19), Yugra (2018-19) e Admiral (2020-21).
No caso do Spartak Moscow, a saída foi um hiato de um ano por razões financeiras e a equipe retornou à KHL na temporada seguinte. O Admiral entrou em hiato por razões financeiras também durante essa temporada, o que pode ser atribuído à pandemia do COVID-19, que teve um grande impacto no financeiro dos clubes.
As novas adições à KHL foram o Avtomobilist (2009-10), o UHC Dynamo (2010-11), o Yugra (2010-11), Lokomotiv (2012-13), Admiral (2013-14), Lada Togliatti (2014-15), o finlandês Jokerit (2014-15), HC Sochi (2014-15), Spartak Moscow (2015-16) e o chinês HC Red Star Kunlun (2016-17).
A KHL atual
Hoje a Kontinental Hockey League é formada por duas conferências e quatro divisões:
Os clubes são em sua grande maioria russos (18), mas há representação de outros países, como Belarus, China, Finlândia, Letônia e Cazaquistão, que possuem uma equipe cada. A KHL é tida como a liga mais disputada na Europa e Ásia, bem como a segunda mais importante do mundo, atrás apenas da NHL. A liga europeia tem a terceira maior média de público no Velho Mundo, com mais de seis mil espectadores, além de possuir o recorde de público na Europa, com 5.32 milhões em uma temporada.
As divisões levam nomes de ex-jogadores importantes para a história do hockey russo. Vsevolod Bobrov foi jogador do CSKA e VVS, além de ter conquistado o ouro olímpico com a URSS. Anatoli Tarasov, por sua vez, faz parte do Hockey Hall of Fame e é tido como o pai do hockey russo e principal responsável pelos anos de hegemonia da equipe nacional da URSS.
Já na conferência Leste, Valeri Kharlamov, integrante do Hockey Hall of Fame, ex-jogador do CSKA e medalhista de ouro pela URSS, também foi homenageado. Por fim, Arkady Chernyshev também recebeu homenagem. O russo foi técnico do Dynamo Moscow e integra o Hall da Fama da Federação Internacional de Hockey no Gelo (IIHF, sigla em inglês).
O formato da temporada
Em 2009 foi feita a divisão entre conferências Leste e Oeste. As conferências incluem duas divisões cada e as equipes disputam quatro partidas entre oponentes de divisão (20), três jogos contra rivais de conferência que são da divisão diferente, além de dois jogos contra cada oponente da conferência oposta. A temporada regular possui 62 jogos no total.
Ao seu final, 16 times se classificam para os playoffs, sendo oito de cada conferência. As quartas de final da conferência são uma série de cinco partidas, enquanto as séries subsequentes (semifinais, finais da conferência e finais da Gagarin Cup) são melhores de sete partidas. O campeão da última série conquista a almejada Gagarin Cup.
O troféu
O campeão dos playoffs da KHL recebe a Gagarin Cup (Кубок Гагарина, em russo). O troféu recebeu esse nome em homenagem ao cosmonauta soviético Yuri Gagarin, o primeiro homem a ir para o espaço, que jogava hockey como goleiro e era um grande entusiasta do esporte.
A taça pesa cerca de 18 quilos e é feita de prata com revestimento em ouro. A Gagarin Cup é mais pesada do que a celebrada Stanley Cup, que pesa cerca de 15.5 kg.
Além do vencedor dos playoffs, a KHL também premia o melhor clube russo, considerando aquele que se classificou com a posição mais alta. Além disso, o time que possui a melhor pontuação na temporada regular é o vencedor da Continental Cup, o equivalente ao President’s Trophy da NHL.
Como assistir
A KHL conta com um sistema de streaming próprio, onde o torcedor pode optar por adquirir os jogos de apenas uma equipe ou da temporada por completo. Ele está disponível para dispositivos Apple e Android, além de Smart TVs. O pacote de uma equipe só custa 1999 rublos (aproximadamente 140 reais) e o pacote da temporada completa custa 2999 rublos (aproximadamente 210 reais). O serviço também possibilita a aquisição do direito a assistir um único jogo. Embora alguns países (como EUA, Canadá e países vizinhos como a Finlândia) tenham restrições geográficas, o Brasil não se encontra neste grupo. É possível, portanto, assinar o serviço daqui. Para mais detalhes sobre como assinar, aqui está a página oficial.
Q&A com a jornalista Gillian Kemmerer, que cobre a KHL
Quais as principais diferenças entre a NHL e a KHL?
A KHL e a NHL convergiram muito na última década. Os talentos vão e voltam entre as ligas, e o tamanho do gelo na KHL tem diminuído. Todas as pistas nas dimensões olímpicas devem ser eliminadas até 2022. Vários nomes conhecidos na NHL, incluindo Bon Hartley, Sergei Fedorov, Dave Nemirovsky, Sergei Zubov e Alexei Kovalev são técnicos na KHL – e essa lista continua. Naturalmente, treinadores importados tendem a trazer ou favorecer um estilo de jogo norte-americano, mas você também vê estilos mais mais sistemáticos e defensivos em alguns dos tradicionais técnicos russos. Há menos brigas no hockey europeu em geral (mas ainda acontece!) e o nível de habilidade é muito alto.
Como são os fãs da KHL? A liga vai ter público nas arenas essa temporada?
A KHL terá torcida nessa temporada, mas as restrições variam de acordo com a cidade e o país. Em algumas arenas, tem um toque de futebol europeu com tambores, bandeiras, e cantos. Os fãs fazem cartazes incríveis e alguns se fantasiam (tem um mago que vem aos jogos de Ufa, e quando Jokerit e Petersburg se enfrentam alguns fãs se vestem como Pedro, o Grande). Tantas cidades da KHL são apaixonadas, e os estádios têm características e tradições únicas. Você pode sentar em uma sauna finlandesa para assistir ao Jokerit na Hartwall Arena, por exemplo.
Quais as regras para jogadores estrangeiros (“imports”) na KHL e por que elas existem?
Um time da KHL (localizado na Rússia) pode escalar até cinco estrangeiros por jogo, e apenas um import goleiro. Times não-russos da KHL devem ter pelo menos dez jogadores do país onde o time está ou da Rússia no elenco (há jogadores que se naturalizam e podem competir como não-estrangeiros). Jogadores de países membros da Comunidade dos Estados Independentes (principalmente porque estão na KHL — Belarus e Cazaquistão) não são considerados imports. Estas regras ajudam a promover o desenvolvimento dos talentos locais.
Como é o sistema de desenvolvimento de jogadores na KHL?
Tem duas ligas que ‘alimentam’ a KHL — a JHL (juniores da Rússia) e a VHL (equivalente à AHL da Rússia). Ambas as ligas se tornaram cada vez mais competitivas ao longo do tempo. Algumas equipes da KHL são afiliadas a clubes da JHL/VHL e outras têm seus próprios times. SKA São Petersburgo, por exemplo, tem duas equipes juniores (1946 e Varyagi), bem como uma equipe VHL (Neva).
É comum ter novas equipes se juntando ou deixando a KHL? Qual foi a última expansão?
Sim, é comum. A última equipe de expansão foi Kunlun Red Star Beijing. A KHL expressa continuamente o desejo de crescer e frequentemente adiciona equipes fora da Rússia. A Ásia e a Europa são ambas boas apostas para uma expansão futura.
Tem algum evento especial durante a temporada, como jogos ao ar livre, jogo das estrelas, premiações?
Sim! A KHL sediou alguns jogos espetaculares ao ar livre (inclusive na Praça Vermelha – estrelas do hockey feminino russo jogaram lá na última temporada), e os rivais do exército CSKA-SKA se enfrentaram na Arena Gazprom no aniversário do hockey russo. Eu adoro aquele jogo de aniversário porque a história do hockey soviético é minha paixão, e a arena é inacreditável. O All-Star Weekend acontecerá em Chelyabinsk este ano, uma cidade louca por hockey que será uma grande anfitriã. Há também uma cerimônia de premiação em Barvikha (subúrbio luxuoso de Moscou) que acontece após o término da temporada. A KHL tradicionalmente realiza os ‘World Games’ (a pandemia infelizmente não permitiu no ano passado) – os anfitriões anteriores incluíram Davos, na Suíça e Viena, na Áustria.
Quais os times favoritos a levantar a taça esse ano? E possíveis azarões?
Os atuais campeões Avangard, o CSKA Moscow, o Ak Bars Kazan e o SKA Saint Petersburg tem sempre a expectativa de dar um show. Porém liga tem se tornado cada vez mais competitiva e menos previsível, como evidenciado pelo fato de que Avangard ganhou seu primeiro título da KHL na história do clube nesta primavera. Alguns times azarões para assistir incluem Dinamo Riga (eles perderam a pós-temporada 7 vezes, mas agora estão sob o regimento do Hall of Famer Sergei Zubov), Kunlun Red Star (eles vão treinar para a Seleção Chinesa de Pequim 2022) e o Admiral Vladivostok (eles perderam a última temporada devido à COVID e questões financeiras, então é ótimo tê-los de volta).
Quais são alguns jogadores para prestar atenção nesta temporada?
Eu amo assistir aos jovens da Rússia. Eles são o futuro do esporte não apenas em um contexto de KHL e NHL, mas também em termos de hóquei na Rússia em nível nacional. Alguns dos meus talentos em ascensão favoritos incluem Dmitry Ovchinnikov, Matvei Michkov, Kirill Marchenko, Dmitry Voronkov e Danila Yurov.
Quais são algumas ideias equivocadas que novos fãs costumam ter sobre a KHL?
O tamanho do gelo é um erro comum. A KHL costumava jogar numa superfície de gelo maior, mas a maioria das equipes agora se converteu para o tamanho da NHL ou um tamanho híbrido finlandês. Outro é que o KHL abrange seis países, não estritamente a Rússia! Belarus, Letônia, China, Cazaquistão e Finlândia têm times na liga – e tenho certeza que mais países participarão com o tempo.
Tem alguma palavra em russo que o fã de hockey precisa conhecer e que podemos ouvir na transmissão ou ver as equipes tweetando?
A palavra mais importante para um fã é “shai-by, shai-by!” Shaiba (шайба) tecnicamente significa “disco”, e os frequentadores das arenas entoam “shai-by” (cujo final implica chegar ao disco) quando querem um gol! O hockey é uma língua universal, então mesmo que você não fale russo, você ainda pode amar e apreciar o KHL.
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