Falar sobre a carreira de um jogador canadense é uma das coisas que mais fazemos aqui no NHeLas. Afinal, o hockey e o Canadá andam de mãos dadas desde sempre. Mas hoje chegou a vez de fazer algo relativamente novo para nós. Chegou a vez de falarmos sobre a carreira de uma jogadora de hockey feminino. A maior defensora da história da NWHL, Kaleigh Fratkin do Boston Pride.
Nascida na cidade de Burnaby, na Columbia Britânica, no Canadá, Kaleigh vem de uma família de atletas e começou a sua carreira no esporte ainda muito nova. Competindo em diversos esportes, a atleta colecionou conquistas por onde passou. Adepta a diversas modalidades ao mesmo tempo, Fratkin praticava futebol, lacrosse, patinação artistística e, claro, hockey.
No futebol, Kaleigh ajudou o seu time a conquistar o Campeonato Provincial de 2008 e foi nomeada MVP em 2010. Quanto ao lacrosse, a atleta conquistou o Campeonato Provincial com seu time em 2009. Hoje, além de jogar hockey, ela também trabalha com marketing para a Under Armour.
Kaleigh Fratkin, a jogadora de hockey
No mundo do hockey, a defensora quebrou barreiras.
Fratkin participou três vezes do Team Canada Development Camp entre 2006 e 2009. Nesse mesmo período, em 2007 e 2008, ela fez parte do time canadense Sub-18 numa série de três jogos contra o time dos EUA. Em 2009, a canadense também ajudou sua seleção a ganhar a medalha de prata no IIHF World Women’s U18 Championship. Ainda conquistou três vezes consecutivas o campeonato nacional canadense com o Team BC (British Columbia), entre 2008 e 2010, e participou dos Jogos de Inverno do Canadá.
Em 2010, Fratkin entrou para a história ao se tornar a primeira mulher a jogar no British Columbia Midget Major League, ingressando no Vancouver North West Giants, um time masculino de hockey. Ela não somente foi a primeira mulher como também ajudou o time a conquistar o 2010 Provincial Championship e foi nomeada finalista do BC Athlete of the Year.
Na temporada 2010-11, Kaleigh começou a jogar na NCAA pela Boston University, apesar de não ter tido um início tão marcante, os seus dois últimos anos mostraram do que a atleta é feita. Durante a temporada 2012-13 ela bloqueou 56 shots, se classificando a segunda melhor da liga.
Na temporada seguinte, em 2013-14, em seu ano sênior, foi nomeada Capitã Assistente e marcou 26 assistências, quatro gols e 30 pontos. Também em sua última temporada, Fratkin foi nomeada para a New England Division I All-Star e Hockey East First-Team All-Star. Em seus quatro anos com o time, foram 66 pontos marcados, com 9 gols e 57 assistências.
Após terminar sua carreira na NCAA, a jogadora foi selecionada como 5º escolha no draft da CWHL pelo Boston Blades, onde conquistou 8 pontos (1 gol e 7 assistências) na temporada regular. Naquele ano, a jogadora teve motivos em dobro para comemorar: seu time foi para os playoffs e conquistou a Clarkson Cup de 2015. Enquanto a seleção canadense Sub-22, da qual fazia parte, foi para a National Cup, conquistando a medalha de ouro.
Na temporada seguinte, a defensora teve uma mudança de ambiente ao ingressar como a primeira canadense na NWHL. Em 2015-16 ela começou no Connecticut Whale participando de 18 jogos e marcando 17 pontos (cinco gols e 12 assistências).
Nessa mesma temporada, ela foi emprestada para o Boston Pride junto com mais duas jogadoras de seu time e assim participou do primeiro 2015 Women’s Winter Classic da NWHL. Fratkin também foi convidada a participar do primeiro NWHL All-Star Game e terminou a temporada como a defensora com mais pontos na liga.
Na temporada seguinte, em 2016-17, a jogadora assinou com o New York Riveters, onde jogou somente uma temporada, e também participou do NWHL All-Star Game. Em sua terceira temporada na liga, em 2017-18, a jogadora assinou com o Boston Pride, time em que permanece até hoje.
Nas três temporadas com o Pride, a jogadora já marcou cinco gols e 32 assistências, somando 37 pontos. Em 2020, foi nomeada para o NWHL Defensor of the Year e pela terceira vez para o NWHL All-Star Game, onde ganhou o Slalom Hardest Shot Competition (tiro mais forte). A defensora já renovou com a liga em breve poderemos vê-la brilhar novamente no gelo.
[Esta entrevista foi traduzida e editada para maior clareza]
Durante o high school você também jogava lacrosse e futebol, como você decidiu que queria então seguir carreira no hockey?
Desde cedo meus pais me incentivaram a praticar muitos esportes. Durante o ensino médio, eu competi muito no futebol, lacrosse e patinação artística (muitas pessoas não sabem que eu patinei em alto nível por bastante tempo). Por fim eu decidi seguir carreira no hockey porque eu amava muito o esporte. Era meu sonho jogar na NCAA e me formar com um diploma de uma universidade dos EUA. Meus dois irmãos mais velhos também iam jogar hockey universitário na NCAA e eu queria seguir seus passos.
Você foi a primeira mulher a entrar para a British Columbia Midget Major League, como foi quebrar essa barreira para as mulheres que viriam a seguir?
Ser a primeira mulher a jogar Major Midget Hockey na Columbia Britânica foi bem incrível. Naquela temporada, eu joguei com e contra alguns jogadores bem notáveis. Foi especial ser considerada para aquela mesma classe. Quebrar aquelas barreiras é algo de que me orgulho muito. Na época, eu não entendia muito bem o impacto que estava tendo na geração mais nova de jogadoras de hockey feminino em BC, e só anos mais tarde eu fui perceber o impacto. Eu dei o exemplo para jogadoras mulheres. Não importa seu gênero, tamanho/estatura, ou o que quer que seja, que se você é bom o suficiente, você pode jogar
Como foi fazer parte de tantos momentos históricos para a NWHL, como o Women’s Winter Classic de 2015?
Fazer parte de muitos momentos históricos na NWHL gerou algumas experiências inacreditáveis em minha carreira profissional. Oportunidades como ser emprestada para o Pride na temporada 1 para o Outdoor Classic foi um dos momentos mais especiais. Eu lembro de estar patinando durante o aquecimento no Gillette Stadium encarando o telão o tempo todo. Eu estava encantada pelo lugar onde eu estava e por quão legal era a atmosfera. Uma coisa que eu nunca vou esquecer.
Você esteve com a NWHL desde o início da Liga. Como foi ver o nascimento dela e a forma com que ela vem ganhando espaço na modalidade?
Como membra original na NWHL, eu tive a oportunidade de ver o crescimento tremendo que a liga teve em 5 anos. Do primeiro jogo disputado no Chelsea Piers até a temporada 5, eu vi o impacto imediato que a NWHL tem tido na geração mais nova de jogadoras mulheres. Eu tenho muito orgulho dos passos que a liga tem dado e continua dando. Jogadoras entrando na universidade têm a oportunidade de jogar profissionalmente quando suas carreiras universitárias acabarem por causa da NWHL. Eu não tinha isso quando entrei na universidade. Estou ansiosa para ver a liga continuar a crescer e ver onde ela vai estar daqui muitos anos.
Você vai para a sua sexta temporada com a NWHL após ter jogado em três times diferentes, em cidades diferentes. Como é a experiência de jogar em diferentes cidades por diferentes times?
Preciso dizer que dos 3 times da NWHL em que eu joguei, jogar para o Boston Pride tem sido o meu favorito!! Sem desconsiderar meu tempo com o Whale e as Riveters, porque também foi muito especial, mas Boston se tornou minha segunda casa. Do meu tempo na universidade até virar profissional, tem algo nos fãs de Boston e na Warrior Arena que é a cereja do bolo. Eu espero que a gente possa jogar em frente dos nossos fãs algum dia em breve! #famintapelacup
Você é a defensora com a maior pontuação na história da NWHL. Como foi ser nomeada Defender of the Year e vencer o Slalom Hardest Shot Competition?
Vencer a competição de Hardest Shot (tiro mais forte) no NWHL All-Star Weekend em Boston foi surpreendente. Eu estava, na verdade, bem doente no dia anterior à competição de habilidades. Eu nem pensei que seria capaz de participar, então foi um bom jeito de terminar o dia! Ter sido selecionada a defensora do ano foi especial para mim. Tem uma tonelada de defensoras talentosas na NWHL e qualquer uma mereceria o prêmio então eu fico feliz e me sinto honrada de ter sido escolhida.
Assim como outras jogadoras, você divide seu tempo entre ser jogadora profissional e ter um emprego fora do gelo. Como você equilibra suas duas profissões?
Equilibrar duas carreiras profissionais definitivamente tem seus desafios, mas (é) algo que me orgulho de poder fazer. Ainda que eu adoraria só jogar hockey como única profissão, a realidade é que ainda não estamos lá como esporte. Sendo este o caso, eu amo meu outro emprego. Eu trabalho no marketing da Under Armour. É um emprego como nenhum outro, em que eu tenho a chance de mesclar minha paixão por esportes e moda. Eu trabalho com atletas todo dia e me apoio em minhas experiências como atleta profissional o tempo todo no meu trabalho. Sou grata e sortuda pela UA e o suporte deles em ambas as minhas carreiras.
Você já participou da Nations Cup e da Women’s World Championship da IIHF. Como é a atmosfera de participar de campeonatos mundiais representando o seu país?
Representar o Canadá em qualquer palco é uma honra absoluta. Sempre que você tem a oportunidade de usar a folha de bordo no peito, é especial. Definitivamente tem uma pressão que vem com representar a sua nação, mas é algo que eu pude fazer diversas vezes e sou grata por isso. O Campeonato Mundial na Alemanha foi um bem divertido! Apesar de ter perdido o jogo pela medalha de ouro para os EUA, minha família estava lá assistindo, o que tornou tudo ainda mais especial ter o apoio deles.
Com a final da Isobel Cup cancelado, como você tem feito para se preparar para a próxima temporada da Liga?
Meu treinamento de intertemporada está finalmente em curso e em pleno vigor. Eu tenho um programa de verão que estou seguindo para fortalecimento fora do gelo e condicionamento e trabalho em habilidades no gelo durante a semana. Na intertemporada eu tento estar no gelo o máximo que posso. Então estou focando em patinar 4 vezes por semana. Meu plano é intensificar (o treino) no gelo quando estiver mais perto de setembro.
Foto: Michelle Jay/NWHL