Diferentemente de anos anteriores, assim como os que viriam a seguir, o draft de 2012 não teve um top3 de encher os olhos. Na verdade, é possível dizer que seus jogadores mais importantes foram pinçados no decorrer do evento. A first pick foi, pelo terceiro ano consecutivo, do Edmonton Oilers, que optou selecionar um atacante pela terceira vez.
O draft de 2012 aconteceu em 22 e 23 de junho daquele ano, na cidade de Pittsburgh. O ano marcou a última vez em que apenas os cinco piores times participaram da loteria, fazendo Edmonton pular da segunda posição para a primeira. Vamos analisar, além do top3, alguns dos principais nomes que saíram da seleção deste ano.
NAIL YAKUPOV, RW, EDMONTON OILERS (#1 overall): de volta à minha terra
O russo começou sua carreira no time de sua cidade natal, Reaktor Nizhnekamsk, na liga juvenil da Rússia. Aos 16 anos o jogador foi selecionado pelo Sarnia Sting da Ontario Hockey League (OHL), no Import Draft (a forma como atletas estrangeiros são escolhidos) da Canadian Hockey League (CHL). No decorrer de seu ano de estreia pela equipe, Yakupov se destacou. Além disso, foi o primeiro jogador da história do Sting a ganhar o troféu de rookie do ano.
Ranqueado como o primeiro patinador da América do Norte, Yakupov foi selecionado com a primeira escolha e já assinou um contrato com os Oilers. Entretanto, embora o clube desejasse que o russo voltasse à OHL durante o lockout de 2012, o atleta decidiu jogar em seu país natal. Ocorre que o acordo entre a CHL e a NHL impede que um atleta com contrato e idade para jogar major juniors atue fora de uma das duas ligas.
Assim, por irregularidades junto à IIHF, o russo retornou ao Sarnia Sting momentaneamente, antes de receber permissão da Hockey Canada para voltar à KHL. Em janeiro de 2013, com o fim do lockout, Yakupov voltou aos Oilers, marcando seu primeiro gol contra o San Jose Sharks. Na temporada reduzida o russo marcou 31 pontos em 48 jogos, mas seu desempenho nos anos seguintes gerou insatisfação no clube canadense.
Depois de campanhas modestas com Edmonton, em 2016 ele foi trocado para o St. Louis Blues, onde não teve números bons e sofreu uma lesão no joelho que encerrou sua temporada. Por falta de interesse da equipe de Missouri, o russo se tornou um unrestricted free agent em 2017. Ele então assinou um contrato de um ano com o Colorado Avalanche por menos de um milhão de dólares. Ao ser novamente um UFA no ano seguinte, Yakupov decidiu retornar à KHL, desta vez para atuar pelo SKA St. Petersburg, onde joga até hoje.
RYAN MURRAY, D, COLUMBUS BLUE JACKETS (#2 overall): Mr. Glass de Ohio
O defensor canadense passou sua carreira no major juniors atuando pelo Everett Silvertips da Western Hockey League (WHL), de 2008 a 2013. Murray foi peça importante da defesa do time, tendo sido inclusive nomeado capitão no início de seu terceiro ano. Às vésperas do draft, o jogador era o segundo no ranking da América do Norte, tendo sido escolhido por Columbus com a segunda escolha.
Murray assinou seu primeiro contrato profissional após o draft, em 2012. Entretanto, uma lesão em novembro do mesmo ano o tiraram do resto da temporada da WHL e, consequentemente, da NHL. Aqui começaria um histórico de lesões que o perseguiriam durante sua carreira. O defensor estreou contra o Calgary Flames e marcou seu primeiro gol contra o Toronto Maple Leafs.
Em suas cinco primeiras temporadas Murray perdeu cerca de 35% das partidas que poderia ter disputado. O atleta já sofreu lesões no joelho, fratura na mão, dentre outras contusões na carreira de sete anos. Em 2016 a equipe de Ohio estendeu seu compromisso com o defensor por mais dois anos, com um contrato avaliado em 5.65 milhões de dólares. Entretanto, em 2018, o histórico do canadense pesou e ele assinou apenas uma qualifying offer no valor de pouco mais de 800 mil dólares.
ALEX GALCHENYUK, LW, MONTREAL CANADIENS (#3 overall): o viajante das quatro divisões
Assim como Yakupov, Galchenyuk também jogou no Sarnia Sting da OHL e foi selecionado em terceiro pelo Montreal Canadiens. Durante o lockout de 2012, o americano (que tem origem bielorrussa) retornou à equipe de juniors, marcando 27 gols e 34 assistências em apenas 33 jogos. Desta forma, Galchenyuk chegou a Montreal com muitas expectativas sobre seus ombros. O clube se trata de um original six e tem uma das torcidas mais fanáticas do hockey.
Seu primeiro gol foi contra o Florida Panthers e o atleta terminou a temporada com 27 pontos em 48 jogos, uma campanha respeitável para um rookie. Os anos seguintes foram feitos de altos e baixos para o jogador. Ele passou por lesões e problemas pessoais que fizeram com que o americano sempre estivesse cercado de rumores sobre uma possível troca. Depois de marcar 20 e 30 gols em temporadas consecutivas, o rendimento ofensivo do winger caiu.
Além disso, o clube desejava que o atleta passasse a atuar como center, gerando muita resistência de sua parte. O desgaste entre jogador e time resultou na troca com o Arizona Coyotes em 2018, que enviou Max Domi para Montreal. Com 41 pontos em 72 partidas, Galchenyuk foi trocado na off-season seguinte para o Pittsburgh Penguins, onde não obteve muito sucesso. Após menos de um ano com o clube, ele foi enviado para o Minnesota Wild na troca que levou Jason Zucker aos Pens.
MORGAN RIELLY, D, TORONTO MAPLE LEAFS (#5 overall): a primeira peça do quebra-cabeças
A postura do defensor canadense transmite a maturidade de um verdadeiro veterano. Rielly, com seus sete anos de NHL, é uma das principais estrelas da equipe de Toronto. Antes de estrear como profissional, o atleta jogava pelo Moose Jaw Warriors da WHL, mas uma lesão séria no joelho impediu que ele jogasse grande parte de sua temporada de elegibilidade. Mesmo assim, ele foi ranqueado em quinto lugar entre os patinadores norte-americanos e foi escolhido justamente em quinto pelo Toronto.
Com o lockout bloqueando o início da temporada na NHL, Rielly fez sua estreia profissional pelo Toronto Marlies da American Hockey League (AHL) em 2012. Seu primeiro jogo na Liga ocorreu apenas na temporada seguinte, contra o Ottawa Senators. Embora os Leafs tenham tido campanhas complicadas até a chegada de Auston Matthews, o defensor sempre foi visto como parte do futuro da equipe, adquirindo inclusive um papel importante de liderança.
Em 2016 o canadense estendeu seu contrato com Toronto por mais seis anos, por cerca de cinco milhões anuais. No mesmo ano, a equipe foi rejuvenescida com a chegada de Matthews e Mitch Marner, e Rielly se consolidou como o 1D do time. Os 72 pontos que ele fez na temporada 2018-2019 marcaram a primeira vez desde 1980 que um defensor atingiu esta marca pelo clube.
Entretanto, apesar do sucesso na Liga, Rielly se envolveu em uma polêmica em março de 2019. Um microfone da transmissão captou o defensor supostamente usando um termo homofóbico. Após uma investigação, a NHL constatou que não havia passado de um mal entendido. Rielly, por sua vez, participou da Parada do Orgulho Gay de Toronto em 2019, juntamente com o GM Kyle Dubas.
FILIP FORSBERG, LW, WASHINGTON CAPITALS (#11 overall): a invasão sueca na Music Row
Depois de se destacar em competições juniores pela seleção sueca, Forsberg chegou ao draft ranqueado como o melhor atacante da Europa. Assim, foi selecionado pelo Washington Capitals em 11º e assinou seu contrato no development camp daquele mesmo ano. O sueco foi emprestado para o Leksands IF, equipe que o revelou. Assim, ajudou o time a ser promovido para a Swedish Hockey League (SHL) novamente.
Porém, em abril de 2013 o jogador foi trocado para o Nashville Predators por Martin Erat e Michael Latta. Após o fim da temporada sueca, ele fez o seu primeiro jogo pelos Preds contra o Detroit Red Wings. O sueco estreou na temporada 2012/2013 e passou o ano seguinte alternando atuações entre os Preds e o seu time da AHL, o Milwaukee Admirals. Entretanto, a partir da temporada 2014/2015 Forsberg se tornou uma peça importante para o ataque de Nashville. O jogador foi inclusive um dos representantes da equipe no All Star Game de 2015.
Forsberg passou a ter números expressivos, especialmente no quesito gols, sendo inclusive o primeiro jogador da história da franquia a marcar dois hat tricks em uma mesma temporada. Após duas temporadas com mais de 30 gols, o sueco passou a fazer parte do grupo de liderança da equipe, recebendo um A. Atualmente, o jogador está nos anos finais do contrato de seis anos que assinou em 2016, avaliado em 6 milhões anuais.
ANDREI VASILEVSKIY, G, TAMPA BAY LIGHTNING (#19 overall): “Big Cat” to the Rescue
Goleiros raramente são selecionados no primeiro round, mas desde o draft Vasilevskiy já demonstrou que era diferente da maioria. Ranqueado como o primeiro goleiro europeu, o russo iniciou sua carreira no Salavat Yulaev Ufa da KHL, assinando seu primeiro contrato com o Lightning apenas em 2014.
Embora seu início na América do Norte, jogando pelo Syracuse Crunch da AHL, tenha sido positivo, em setembro de 2015 o russo passou por um problema de saúde. O goleiro teve um coágulo sanguíneo retirado das proximidades de sua clavícula e ficou alguns meses afastado do rinque enquanto se recuperava.
Com números extremamente positivos, Vasilevskiy se tornou um dos pilares da forte equipe de Tampa, com uma SV% de .919 e média de 2.55 gols concedidos. Além de ter sido um All Star por três anos consecutivos, 2018, 2019 e 2020, o russo ganhou o Vezina Trophy, dado ao melhor goleiro da Liga, no NHL Awards de 2019. Na última temporada ele assinou um novo contrato com o Lightning que se estende até 2027/2028 por cerca de 9.5 milhões anuais.
SHAYNE GOSTISBEHERE, D, PHILADELPHIA FLYERS (#78 overall): o fantasma do Wells Fargo Center
Natural da Flórida, o defensor americano começou no hockey através do programa infanto-juvenil do Florida Panthers, tendo optado pela carreira universitária após terminar o ensino médio. Com a equipe da Union College, Gostisbehere ganhou o Frozen Four, campeonato nacional das equipes universitárias, se destacando como uma das estrelas da sua equipe.
Embora o defensor tenha iniciado sua carreira profissional em 2014 na AHL, ele sofreu uma lesão no ligamento cruzado no início da temporada, encerrando sua participação naquele ano. Na temporada seguinte, o americano começou jogando pelo Lehigh Valley Phantoms, mas após o primeiro mês na AHL foi acionado pelos Flyers para jogar na NHL.
Com uma temporada memorável que incluiu uma streak de 15 jogos pontuando, o defensor foi um dos finalistas do Calder Trophy. Embora sua campanha tenha sido significativa, Gostisbehere perdeu o prêmio para Artemi Panarin. Em 2017 o americano assinou um contrato de seis anos, avaliado em aproximadamente 4.5 milhões anuais.
Conhecido por seu estilo extremamente ofensivo, o defensor é um tópico sensível para a torcida de Philadelphia, que se tornou cada vez mais frustrada com suas atuações. Isto porque Gostisbehere conseguiu replicar a performance de seu ano de estreia apenas uma vez e, consequentemente, é um nome que sempre faz parte de rumores de trocas com outras equipes.
MATT MURRAY, G, PITTSBURGH PENGUINS (#83 overall): o novato sensação do bicampeonato
O goleiro canadense jogou os quatro anos de elegibilidade da OHL pelo Sault St. Marie Greyhounds, terminando sua carreira no major juniors com uma SV% de .921. Já no sistema do Pittsburgh Penguins, Murray estreou pelo Wilkes-Barre Scranton Penguins após o fim de sua temporada da AHL e, no ano seguinte, teve a impressionante SV% de .941 em 40 jogos disputados.
A estreia de Murray na NHL se deu em dezembro de 2015, mas o início de sua história na franquia se deu em fevereiro do ano seguinte, quando ele atuou em nove partidas da temporada regular. Com uma campanha impecável, o canadense se tornou o titular do gol dos Penguins na campanha de 2016 e foi apenas o sexto goleiro rookie desde 1976 a começar uma partida nas finais.
Campeão da Stanley Cup, Murray foi se apossando da titularidade do gol de Pittsburgh, e por pouco o canadense não foi um dos finalistas do Calder Trophy. Isto porque ele não havia jogado o número de partidas necessário para ser tido como rookie no ano anterior, apesar de ter sido o titular em uma porção considerável da pós temporada. Ao final de 2016/2017, Murray foi novamente campeão da Stanley Cup, curiosamente ganhando nos dois anos com status de novato.
Com a ida de Marc-André Fleury para o Vegas Golden Knights no draft de expansão (2017), o canadense se fixou como o titular absoluto dos Penguins. Seus números de carreira são SV% de .914 e uma média de 2.67 gols sofridos. O goleiro está no terceiro e último ano de seu contrato, avaliado em 3.75 milhões anuais.
MENÇÕES HONROSAS:
Hampus Lindholm, D, Anaheim Ducks (#6)
Revelado pelo Rögle BK da SHL, Lindholm também foi campeão no mundial de 2018 pela seleção da Suécia.
Matt Dumba, D, Minnesota Wild (#7)
Conforme foi adquirindo experiência na NHL, Dumba se tornou o parceiro de defesa de Ryan Suter, mas constantemente tem seu nome vinculado em rumores de trocas.
Jacob Trouba D, Winnipeg Jets (#9) – atualmente jogador do New York Rangers
O defensor se recusou a assinar uma extensão com os Jets, e teve seus direitos trocados de Winnipeg para o New York Rangers.
Tom Wilson, RW, Washington Capitals (#16)
Apesar dos (inúmeros) problemas disciplinares, Wilson foi peça importante na campanha vitoriosa do Washington Capitals em 2018.
Teuvo Teravainen, LW, Chicago Blackhawks (#18) – atualmente jogador do Carolina Hurricanes
Campeão da Stanley Cup por Chicago, o finlandês passou a ser uma figura importante do elenco do Carolina Hurricanes após ser trocado para a equipe.
Frederik Andersen, G, Anaheim Ducks (#87) – atualmente jogador do Toronto Maple Leafs
Por não ter chegado a um acordo com o Carolina Hurricanes, time que o draftou em 2010, o dinamarquês se inscreveu novamente para o draft de 2012, sendo selecionado por Anaheim, onde começou sua carreira na NHL.
Connor Hellebuyck, G, Winnipeg Jets (#130)
Finalista do Vezina Trophy em 2018, o goleiro americano estava entre os nomes mais cotados para o troféu deste ano, antes da paralisação da Liga.
(Foto: SarniaSting.com/Reprodução)