As mudanças na NHL para a próxima década

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Nas últimas semanas, pudemos acompanhar diversos relatos de casos de abuso na NHL. Racismo, violência emocional, xenofobia, conduta violenta dentro e fora das quadras de gelo. Comportamentos que são inaceitáveis, e não deveriam possuir espaço no século 21. Uma nova década se iniciará em menos de um mês e a Liga não pode continuar a mesma.

Sendo assim, após os diversos casos expostos ao público nos últimos dias, o comissário da Liga Nacional de Hockey, Gary Bettman, se encontrou nesta segunda (9) com o Conselho de Governadores desta para decidir certas mudanças em relação a NHL. Principalmente, como a Liga deve se comportar a partir dos próximos anos em relação aos abusos com as próximas gerações de atletas.

O comunicado

Bettman inicia explicando que, como uma das maiores ligas de hockey do mundo, a NHL sabe do seu papel em se tornar um exemplo. E que certas condutas, dentro e fora do gelo, são intoleráveis, independente do momento em que ocorreram. Ele também ressaltou a importância do respeito entre todos para um melhor ambiente de trabalho.

“Agora, obviamente, estamos cientes da conduta que foi e é inaceitável. Se aconteceu há 10 anos ou na semana passada, a resposta deve ser a mesma – é inaceitável. Embora não soubessemos, o fato é que nós, como Liga – em nome de nós mesmos, nossas equipes e nossos jogadores, treinadores, organizações e torcedores – devemos responder de uma maneira clara, significativa e apropriada. Profissionalismo e respeito sempre foram importantes para a Liga, mas agora é um momento particularmente importante para discutir isso, porque todos têm direito a um local de trabalho respeitoso.” (Gary Bettman, para o Site da NHL)

Seguidamente, explana sobre a necessidade de mudanças na Liga, pois o mundo está constante evolução, e a NHL precisa mudar para melhor junto deste. No entanto, Bettman ainda destaca que é necessário lembrar e reconhecer o comportamento errado do passado, para que todos possam evoluir em prol do hockey e de sua comunidade.

“O mundo está mudando para melhor. Esta é uma oportunidade, e um momento, para mudanças positivas e essa evolução deve ser acelerada – para o benefício de todos os associados ao jogo que amamos. E mesmo enquanto a mudança está entrando em vigor, ainda precisamos reconhecer coisas que estavam erradas no passado. Esse reconhecimento permite que aqueles que foram prejudicados sejam ouvidos e oferece a todos nós a oportunidade de impedir que essas coisas aconteçam novamente.” Gary Bettman, para o nhl.com

Mediante às diversas denúncias de abuso dos últimos dias, o comissário volta a reforçar que “Inclusão e diversidade […] são princípios fundamentais para a NHL, e que é por isso que a Liga criou programas como “Learn To Play” e “Hockey is for everyone”. (Bettman para nhl.com)

Mas, apesar da implementação de ações como estas, com intuito de incluir no esporte todos aqueles que o amam, ainda existe muita negligência da Liga em relação à inclusão e ao não-preconceito. Alguns programas foram criados há alguns anos atrás, portanto, seria natural que as coisas já estivessem caminhando para um rumo de mais mudanças positivas. No entanto, ainda assim assistimos diariamente aos diversos relatos corajosos de jogadores que sofreram abusos devido à sua etnia, orientação sexual, e diversos outros motivos. Como dito antes, inclusão e diversidade são princípios fundamentais da Liga. Todavia, é cada vez mais necessário que estes comecem a sair do papel de uma vez por todas, para o bem da própria NHL, e daqueles que são peça importante para fazer com que esta continue existindo – seus jogadores. 

A partir disso, Bettman e os comissários citaram algumas propostas que revelam como desejam que a NHL se apresente daqui para frente.

Comprometimento dos times com a Liga sobre a comunicação dos casos de abuso

Decidiu-se que, futuramente, diante de condutas abusivas, inapropriadas ou intoleráveis, dentro e fora do gelo, que venham a violar às políticas da Liga, é de extrema importância e necessidade que o time comunique imediatamente o escritório da NHL (Gary Bettman ou Daly). Continua afirmando que haverá tolerância zero em relação a falha na comunicação de assuntos como este, e que, caso aconteça, “o clube e as pessoas envolvidas devem esperar disciplina severa.” (Bettman, nhl.com).

Em relação ao caso Bill Peters no Carolina Hurricanes, ainda existe confusão entre as declarações de Ron Francis e Peter Karmanos que precisam ser esclarecidas em relação ao caso Michal Jordán e seu companheiro de equipe. Isso por que, nos depoimentos, Francis, na época General Manager dos Cannes, afirma ter feito Peters pedir desculpa a equipe, e diz na declaração à NHL ter “informado à propriedade”. Porém, o dono majoritário do time durante o acontecimento, Peter Karmanos, afirmou ao Seattle Times que não havia sido alertado sobre o caso, e que se tivesse, teria emitido a demissão de Peters. Portanto, essa ainda é uma pendência que o escritório da NHL precisava resolver, e se prontificou a fazê-la o quanto antes.

No entanto, Bettman afirma que as alegações aos antigos responsáveis pelo time não se aplicam ao atual detentor dos direitos do Cannes, Tom Dudon, que foi um dos primeiros a comunicá-lo quando soube do caso de violência física cometido por Peters.

Programa anual sobre conscientização da diversidade e inclusão

O comissário continuou o comunicado afirmando que tinha consciência de que a maioria dos técnicos da Liga não possuem conduta indadequada ou abusiva com seus jogadores e que, por fim, a profissão não merecia ser condenada devido ao comportamento intolerável de alguns destes. Porém, com o intuito de modificar esse tipo de cultura, ficou decidido que a Liga formulará um programa anual obrigatório de aconselhamento, conscientização, educação e treinamento sobre diversidade e inclusão.

Este programa será necessário para todos os treinadores principais, treinadores de ligas menores contratados pelas equipes da NHL, assistentes técnicos, gerentes gerais e gerentes gerais assistentes. Vamos focar a programação em treinamentos e outros exercícios e iniciativas para garantir vestiários respeitosos, instalações de treinamento, jogos e todas as outras atividades relacionadas ao hockey; e ensinar a garantir as melhores práticas de intervenção dos espectadores, anti-assédio, anti-trote, não-retaliação e anti-bullying.” (Bettman para o site da NHL)

A intenção é criar a estrutura do programa com a ajuda de profissionais externos na área, e consultar a Associação de Jogadores e a Associação de Treinadores sobre qual a melhor forma de proceder com este. Também afirmaram que irão discutir com a Associação de Jogadores qual seria a melhor maneira de abordar este programas. Assim como a melhor abordagem para introduzir outros programas que serão criados pela Liga, deverão ser apresentado a NHLPA.

Por fim, sob  comando do vice-presidente executivo da NHL, Kim Davis, será formado um conselho multidisciplinar com o intuito de controlar de perto o andamento destas medidas, programas, disponibilização dos recursos, e etc. 

A política de zero tolerância

Seguidamente, Bettman volta a frisar que a conduta inadequada e abusiva entre membros de um clube deverão ser severamente disciplinadas, seja pela própria equipe, ou pela Liga, com o intuito de não repetição desta futuramente.

“Embora a disciplina, como sempre, deva ser caso a caso – é minha intenção que seja severa, apropriada e projetada para remediar a situação e garantir que a conduta não ocorra novamente.” (Bettman, site da NHL)

Plataforma para o relato dos casos de abuso

A NHL decidiu também criar uma plataforma (como uma linha direta, por exemplo), onde se possa relatar os casos de condutas inadequadas de forma anônima. A intenção é garantir que, quem não se sinta segura o suficiente para vir à público relatar o caso, tenha este local para apontar uma preocupação (ou participar de uma investigação de um caso de abuso), sem se sentir retaliado. Bettman garante que todos os casos levantados na plataforma serão levados a sério, e terão o devido acompanhamento. 

De todas as ligas de esportes do mundo todo, é do conhecimento dos fãs que NHL ainda possui diversos traços de uma cultura do hockey que iniciou há anos atrás. Uma cultura ainda baseada em costumes antigos, de outra época. Mas o mundo está evoluindo, e muitas coisas estão mudando. Não cabe mais ao século 21 abrigar tantos casos não resolvidos de violência física e mental. Abuso é inaceitável em qualquer lugar. E isso se aplica ao hockey. 

Os jogadores são a alma da Liga. Sem eles, não é possível que a NHL exista. E por serem parte importante deste esporte, merecem se sentir confortáveis o suficiente dentro do seu local de trabalho (local de trabalho que é, na maior parte das vezes, a sua própria casa). A Liga precisa ter em mente os melhores interesses de seus atletas. Precisa condenar os atos de abuso para ontem. Precisa tomar as providências corretas. E precisa, principalmente, fazer com que todas essas medidas saiam do papel. 

Uma nova década se inicia em 20 dias. E que essas mudanças prevaleçam nesta que vier, e na próxima, e nas outras que virão. A nova geração de atletas precisa de um ambiente mais saudável para desenvolver o hockey. E o hockey precisa de um lugar mais saudável para se desenvolver, crescer e se tornar melhor para toda sua comunidade. 

Foto Reprodução: Sportsnet.ca

1 Comment

Racismo no Hockey: O silêncio não é mais uma opção ⋆ NHeLas 9 de Junho de 2020 - 15:08

[…] com a causa. Quando as acusações de Aliu vieram a público, acumularam-se dias até que a Liga se manifestasse com uma nota de repúdio aos atos. Mas além de uma nota de repúdio, e o envolvimento com a causa apenas durante um mês do […]

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